Calafrio - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 81 / 164

Por fim, acabámos por reunir-nos no terraço, que o sol inundava de um calor agradável. E ficámos ali sentadas enquanto, a pequena distancia, as crianças andavam de um lado para o outro, na melhor das disposições. Moviam-se devagar, em uníssono, percorrendo o relvado, o garoto ocupado a ler uma história à irmã, um braço carinhoso a rodear-lhe os ombros. Mrs. Grose observava-os com um olhar de beatitude, mas, ao fim de algum tempo, senti que os seus olhos se viravam para mim como que para descobrir o que eu tinha em mente. Apesar de eu a ter tornado receptáculo de uma série de coisas pavorosas, havia um estranho reconhecimento da minha superioridade — pelas minhas habilitações, bem como pelas funções que desempenhava — na sua paciência com a minha dor. Aceitara sem pestanejar o cargo de minha confidente, da mesma forma como, se eu estivesse interessada em preparar uma poção mágica e lhe apresentasse a ideia com a convicção necessária, ela por certo me entregaria urna panela. Foi esta a atitude por ela demonstrada na altura em que, ao relatar-lhe o que sucedera nessa mesma noite, passei a contar o que Miles me dissera quando eu, ao vê-lo quase no mesmo sítio onde ele agora se encontrava àquela hora monstruosa, correra ao seu encontro, o que achei preferível a qualquer outro processo que viesse a deixar a casa em polvorosa. Contudo, estava certa de que, assim que ela escutasse o que o rapaz me dissera quando lhe pedira uma explicação para a sua atitude, a mulher por certo se uniria a mim na partilha de tanta suspeita e preocupação. Assim que, à luz do luar, Miles me viu aparecer no terraço, de imediato veio ao meu encontro. Sem pronunciar uma palavra, peguei-lhe na mão e, rompendo a escuridão, subi a escada onde Quint o procurara com tanta ansiedade, atravessei o vestíbulo onde antes me imobilizara para escutar e tremer, e entrei no quarto dele.





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