Calafrio - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 86 / 164

Tamanha lucidez deve ter soado horrivelmente, mas as criaturas deliciosas que dela eram vítimas, passeando abraçadas na nossa frente, funcionavam para a minha interlocutora como uma espécie de bóia de salvação a que podia agarrar-se. O certo é que, como que indiferente à paixão com que eu pronunciara aquelas palavras, foi com algum desprendimento e sem deixar de os fitar que perguntou:

— Que coisas?

— Que são precisamente aqueles pormenores que sempre me deliciaram e deixaram fascinada que mais têm servido para me enganar e deixar nesta perturbação. Aquela beleza quase feérica, aquela bondade que nada tem de natural. Trata-se de um jogo — prossegui. — De uma estratégia e uma fraude!

— Da parte dos pobrezinhos...?

— ... Que ainda são tão pequenas? Sim, mesmo que pareça uma loucura! — O simples facto de conferir uma estrutura própria às suspeitas que me atormentavam ajudava-me a reconstituir toda a história, a seguir os pormenores e a montá-los um por um até tudo fazer sentido. — Aquelas crianças não são bem-comportadas... são apenas ausentes. É muito simples viver com eles porque os dois habitam um mundo que não é o nosso. Não me pertencem... não nos pertencem. São dele e dela!

— De Quint e daquela mulher?

— Sim, de Quint e daquela mulher. Que estão interessados em apanhá-los.





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