Eis porque, se não fosse a presença dos gendarmes, teria havido ali uma verdadeira revolta.
- Ninguém tem a chave deste cofre? - perguntou o cínico Peyrade, interrogando os presentes tanto com um movimento do grosso nariz como com uma inflexão da voz.
Nisto o provençal notou, não sem um instintivo movimento de receio, que já não havia no salão nenhum gendarme. Corentin e ele estavam sós. O primeiro tirou do bolso um pequeno punhal, e procurou introduzi-lo na fenda do cofre.
Nesta altura ouviu-se, primeiro no caminho, depois no empedrado do pátio, o tropear formidável de um galope desesperado; mas o que causou ainda mais pavor foi a queda e o arfar de um cavalo que tombava nas quatro patas abaixo ao mesmo tempo ao pé do torreão do centro. Comoção idêntica à que produz a queda de um raio sacudiu todos os espectadores quando Laurence entrou, anunciada pelo roçagar do seu fato de amazona; toda aquela gente abrira logo alas para a deixar passar.
Apesar da rapidez da sua cavalgada, era evidente que muito sentira a dor que lhe devia causar a descoberta da conspiração: todas as suas esperanças caídas por terra! Galopara no meio de ruínas, certa da necessidade de uma submissão ao governo consular. Eis porque, se não fosse o sentimento do perigo que corriam os quatro gentis-homens, tópico com a ajuda do qual ela dominara a sua fadiga e o seu desespero, teria caído desmaiada. Por pouco não matara a sua égua para vir instalar-se entre a morte e os primos.
Ao darem com os olhos naquela heróica rapariga, pálida, as faces cavadas, o véu às três pancadas, o pingalim na mão, especada no limiar da porta de onde o seu olhar escaldante abraçava a cena toda e a compreendia rapidamente, todos se deram conta, pelo movimento imperceptível que agitou a face ácida e torva de Corentin, que os dois verdadeiros adversários se encontravam frente a frente.