Capítulo 9: IX - DESDITAS DA POLÍCIA
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Uma espécie de raiva fria / agitava o coração insensível daqueles dois seres que saboreavam o terror geral. O polícia passa pelas mesmas emoções que o caçador; mas ao exercer as forças do corpo e da inteligência, onde um procura matar a lebre, a perdiz ou o cabrito-montês, o outro trata de salvar o Estado ou o príncipe, ou então ganhar uma boa recompensa. Por isso a caça ao homem é superior à outra caça; de uma à outra vai a distância que separa os homens dos animais. Aliás, o espião precisa de elevar o seu papel à altura e à importância dos interesses a que se devota. Sem ter necessidade de conhecer o ofício, todo e qualquer pode conceber que a alma lhe consagra tanta paixão como a que o caçador dedica à perseguição da presa. Eis porque, quanto mais se aproximavam da luz, mais aqueles dois homens se mostravam ardentes; no entanto o seu aspecto exterior, os seus olhos, continuavam calmos e frios, tanto, pelo menos, quanto as suas suspeitas, as suas ideias, o seu plano se mantinham impenetráveis. Para quem acompanhasse os efeitos do faro moral daqueles dois podengos na pista dos, factos desconhecidos e ocultos; para quem tivesse compreendido os movimentos de agilidade canina que os levavam a encontrar o que era certo graças ao rápido exame das probabilidades, para esse havia razões capazes de o fazerem estremecer. Como e porquê estavam aqueles homens de génio em craveira tão baixa quando tão alto podiam ascender? Que imperfeição, que vício, que paixão os rebaixava assim? Ser-se-á polícia como se é pensador, escritor, homem de Estado, pintor, general, para o que basta espionar da mesma forma que os outros falam, escrevem, administram, pintam ou se batem na guerra? No coração dos habitantes do castelo só havia um único desejo: «porque não cai um raio em cima destes malandros?» Todos tinham a mesma sede de vingança.
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