- Aqui tem, cidadã; os ministros tomaram a responsabilidade do caso...
- Poderíamos perguntar-lhe - disse-lhe Corentin ao ouvido - com que direito alberga em sua casa os assassinos do Primeiro Cônsul? Aplicou-me nos dedos uma chicotada que me autorizará a dar um dia destes uma ajudazinha para expedir os senhores seus primos, eu que vinha aqui para os salvar...
Pelo movimento dos lábios e pelo olhar que Laurence lançou a Corentin o cura compreendeu o que dizia aquele grande artista desconhecido, e fez à condessa um aceno que apenas Goulard pôde ver. Peyrade batia na tampa do cofrezinho umas pancadas secas para ver se porventura não seria formado de madeira.
- Oh! Meu Deus! - disse Laurence a Peyrade, arrancando-lhe da mão a tampa - não a quebre... Tome.
Pegou num alfinete, carregou na tampa de uma das figuras: as, duas pranchas, impelidas por uma mola, separaram-se e a que era oca apresentou as duas miniaturas dos Senhores de Simeuse, no uniforme do exército de Condé, dois retratos em marfim executados ma Alemanha. Corentin, que se encontrava frente a frente com um adversário digno de toda a sua cólera, atraiu, com um gesto, Peyrade a um canto e conferenciou secretamente com ele.
- Ia atirar, com isto ao lume? - perguntou o abade Goujet a Laurence, apontando-lhe, com um olhar, a carta da marquesa e os cabelos.
A única resposta da condessa foi encolher os ombros significativamente. O cura compreendeu que ela estava pronta a tudo sacrificar para entreter os espiões e ganhar tempo, e ergueu os olhos ao céu num movimento de admiração.
- Onde está preso Gothard, que estou a ouvi-lo chorar? - perguntou-lhe ela em voz suficientemente alta para que a ouvissem.
- Não sei - respondeu o cura.
- Terá ele ido à casa da quinta?
- À casa da quinta! - exclamou Peyrade a Corentin.