- Eu acho - disse o cura - que a condessa, na sua qualidade de mulher, ama com muito mais abandono.
Laurence, os dois irmãos e Roberto apareceram alguns instantes depois. Acabavam de chegar os jornais. Vendo a ineficácia das conspirações tentadas no interior da França, a Inglaterra armava a Europa contra Napoleão. O desastre de Trafalgar deitara por terra um dos planos mais extraordinários que o génio humano ainda inventara, e pelo qual o imperador teria pago à França a sua eleição com a ruína do poder inglês. Já então o campo de Bolonha fora levantado. Napoleão, cujos soldados eram inferiores em número, como sempre, ia travar batalha com a Europa em campos onde até então não aparecera ainda. O mundo inteiro estava preocupado com o resultado desta campanha.
- Oh! desta vez há-de acabar por sucumbir - disse Roberto, ao findar a leitura do jornal. - Tem diante de si todas as forças da Áustria e da Rússia - observou Maria-Paulo.
- Nunca manobrou na Alemanha - acrescentou Paulo-Maria.
- De quem estão a falar? - perguntou Laurence.
- Do imperador - responderam os três gentis-homens.
Laurence relanceou aos seus dois apaixonados um olhar de desdém, que os humilhou, mas que encantou Adriano. O desdenhado teve um gesto de admiração, e um olhar de orgulho, em que por de mais dizia que, pela sua parte, pensava exclusivamente em Laurence.
- Estão a ver? O amor fez-lhe esquecer o ódio - disse o abade Goujet, em voz baixa.
Foi este o primeiro, o único reproche em que os dois irmãos incorreram; mas nesse momento viram-se inferiores em amor a sua prima, que dois meses depois apenas veio a saber da espantosa vitória de Austerlitz através da discussão do pobre Senhor de Hauteserre com os seus dois filhos. Fiel ao seu plano, o velho queria que os seus dois filhos requeressem para entrar ao serviço; eles seriam, com certeza, integrados com as suas patentes, e ainda poderiam vir a fazer uma bela carreira militar.