Um Caso Tenebroso - Cap. 12: XII - UM DUPLO E MESMO AMOR Pág. 137 / 249

Este respeito de Roberto explica admiravelmente a situação, que naturalmente teria obtido os seus privilégios nesses tempos de fé em que o soberano pontífice tinha o poder de intervir para cortar o nó górdio desses raros fenômenos, vizinhos dos mistérios mais impenetráveis.

A Revolução havia retemperado estes corações na fé católica; eis porque a religião tornava esta crise mais terrível ainda, pois a verdade é que a grandeza dos caracteres amplia, a grandeza das situações. Por, isso nem o Senhor e a Senhora de Hauteserre, nem o cura, nem a senhora sua irmã esperavam nada de vulgar dos dois, irmãos ou de Laurence.

Este drama, que se manteve misteriosamente encerrado nos limites da família, onde cada um o observava em silêncio, teve um curso ao mesmo tempo tão rápido e tão lento, contava tantas satisfações inesperadas, pequenos combates, preferências desenganadas, esperanças malogradas, expectativas cruéis, adiamentos para o dia seguinte em matéria de explicações, declarações mudas, que os habitantes de Cinq-Cygne não prestaram a mais pequena atenção ao coroamento de Napoleão. Aliás essas paixões tinham entrado em tréguas graças à violenta distracção que proporcionava o prazer da caça, o qual, fatigando excessivamente o corpo, retira à alma a oportunidade de jornadear pelas estepes perigosas do entressonho. Nem Laurence nem os seus primos pensavam nos negócios da vida, pois para eles cada novo dia tinha o seu interesse palpitante.

- Em verdade - disse uma noite a Menina Goujet -, já não sei, entre todos estes amantes, qual aquele que mais ama.

Adriano era o único que estava no salão com os quatro jogadores de boston; soergueu os olhos, ao ouvir isto, e empalideceu. Havia alguns dias já que nada o prendia à vida além do prazer de ver Laurence e de a ouvir falar.





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