Que isso não volte a acontecer, e estou pronto a desculpar-te as tagarelices antigas.
O pequeno começou a chorar.
- Não chores; mas, se te perguntarem qualquer coisa, responde como os camponeses: «Não sei...» Andam para aí umas pessoas que me não querem bem. Vai-te embora! E vocês, ouviram? - disse Michu para as duas mulheres - bico calado, hem!
- Meu amigo, que vais tu fazer?
Michu, que media, atento, uma carga de pólvora e a despejava no cano da carabina, encostou a arma ao parapeito e disse para Marta:
- Nunca ninguém viu esta carabina; põe-te diante dela!
Couraut, que se erguera, rosnava, furioso.
- Rico cão! Cão inteligente! - exclamou Michu -; estou convencido de que são espiões...
Ambos adivinhavam estarem a ser espiados.
Couraut e Michu, dir-se-ia que com uma só alma, viviam juntos como o árabe e o seu cavalo vivem no deserto. O administrador conhecia todas as modulações do latir de Couraut e as ideias que ele exprimia, tal como o cachorro lia nos olhos do dono os seus pensamentos e os sentia exalarem-se-lhe no ar do seu corpo.
- Que te parece? - exclamou, em voz baixa;
Michu, apontando à mulher duas sinistras criaturas que surgiam numa álea lateral, dirigindo-se para a rotunda.
- Que é que se passa cá na terra? São parisienses! - comentou a velha.
- Ah! aí estão eles! - exclamou Michu. Esconde a carabina! - disse ao ouvido da mulher. - Dirigem-se para nós.