Enfim, via-se logrado por esses jovens que lhe tinham prometido viver pacificamente.
- O vaticínio de Fouché cumpriu-se! - exclamou ele, lembrando-se da frase que dois anos antes escapara ao seu ministro, actual da polícia, que a pronunciara apenas graças ao relatório feito por Corentin acerca de Laurence.
Não é possível imaginar-se, sob um governo constitucional, onde ninguém se interessa pela coisa pública cega e muda, ingrata e fria, o zelo que uma só palavra do imperador imprimia à sua máquina política administrativa. Essa poderosa vontade parecia comunicar-se por igual às coisas e aos homens. Uma vez pronunciada a sua frase, o imperador, surpreendido pela coligação de 1806 esqueceu por completo o caso. Pensava em novas batalhas, e ocupava-se em dizimar os seus regimentos para ferir um grande golpe no coração da monarquia prussiana; mas o seu desejo de que se fizesse prontamente justiça encontrou um poderoso veículo na incerteza que afectava a posição de todos os magistrados do Império. Naquela altura. Cambacérês, na sua qualidade de arquichanceler e o supremo juiz Régnier preparavam a instituição dos tribunais de primeira instância, dos tribunais imperiais e dos supremos tribunais; agitavam a questão dos trajos, a que Napoleão atribuía tanta importância e com muita razão; examinavam o pessoal e procuravam 0S restos dos parlamentos abolidos. Claro que os magistrados do departamento de Aube pensavam que dar provas de zelo no caso do rapto do conde de Gondreville era uma excelente recomendação. As suposições de Napoleão tornaram-se, por isso certezas para os cortesãos e para as massas.
A paz ainda reinava no continente, e a admiração pelo imperador era unânime em toda a França: adulava os interesses, as vaidades, as pessoas, as coisas, enfim, tudo, até mesmo as reminiscências.