Este acontecimento afigurou-se, pois, a toda a gente um atentado à felicidade pública. Por isso os pobres gentis-homens inocentes foram vítimas do opróbrio geral. Poucos, e confinados nas suas terras, os nobres deploravam entre si este caso, mas nem um só ousava abrir a boca. Em verdade, como haviam eles de opor-se ao desvairamento da opinião pública? Em todo o departamento exumavam-se os cadáveres das onze pessoas mortas, em 1792, através das persianas do solar de Cinq-Cygne, e mortificavam-se os acusados. Receava-se que os -emigrados, incitados, acabassem todos por exercer violências nos adquiridores dos bens que lhes pertenciam, preparando assim a sua restituição com um protesto contra uma injusta espoliação. Aqueles fidalgos foram, pois, acoimados de bandoleiros, de ladrões, de assassinos, e a cumplicidade de Michu, essa, tornou-se-lhe fatal, Este homem, que decepara, ele ou o sogro, todas as cabeças que tinham caído no departamento, durante o Terror, tornara-se objecto das mais ridículas histórias. A exasperação foi tanto mais calorosa quanto é certo que Malin é que colocara quase todos os funcionários de Aube. Nem uma só voz generosa se levantou para contestar a opinião pública. Enfim, os infelizes não tinham qualquer meio legal para combaterem as incriminações, pois, submetendo a jurados os elementos da acusação e o julgamento, o Código de Brumário do ano IV não pudera dar aos acusados a imensa garantia do recurso ao tribunal supremo, fundamentado numa suspeição legítima.
Dois dias depois da detenção, os donos e o pessoal do castelo de Cinq-Cygne foram intimados. a comparecer perante o júri de acusação. Deixaram Cinq-Cygne entregue à guarda do rendeiro, sob a vigilância do abade Coujet e da senhora sua irmã, que ali se instalaram.