Cinco dias depois da detenção dos gentis-homens, na altura em que Marta ia deitar-se, pelas 10 horas da noite, chamou-a ao pátio a mãe, que acabava de chegar a pé da sua casa na quinta.
- Um operário de Troyes quer falar-te da parte de Michu, e espera por ti no caminho vão - disse ela a Marta.
-Ambas passaram pela brecha para atalharem caminho. Na obscuridade da noite, não pôde Marta distinguir nada mais que o vulto de uma pessoa nas trevas.
- Fale, minha senhora, para que eu tenha a certeza de que é, realmente, a Senhor Michu - disse esse vulto, numa voz bastante inquieta.
- Com certeza - tornou-lhe Marta. - E que quer o senhor?
- Está bem - voltou o desconhecido, - Deixe ver a sua mão: não tenha medo de mim. Eu venho - acrescentou ele, inclinando-se para o ouvido de Marta -, da parte de Michu, dizer-lhe uma palavrinha. Sou um dos empregados da cadeia, e se os meus superiores dessem pela minha saída, estaríamos perdidos. Confie em mim. Noutros tempos foi o seu digno• homem quem me colocou neste lugar. Por isso Michu pôde contar comigo.
Depositando uma carta na mão de Marta, o vulto desapareceu, no meio da floresta, sem aguardar resposta. Marta sentiu como que um calafrio ao pensar que ida, por certo, conhecer a chave do enigma. Correu para a casa da quinta com a mãe e fechou-se para ler a carta seguinte:
«Minha querida Marta: podes ter confiança na discrição do homem que te entregar esta carta: ele não sabe ler nem escrever, é um dos mais sólidos republicanos da conspiração de Babeuf; teu pai serviu-se várias vezes dele, que considera o senador um traidor. Ora, minha querida mulher, o senador foi emparedado por nós no subterrâneo onde escondemos os nossos patrões. O desgraçado só tem comida para cinco dias, e, como temos todo o interesse que ele continue vivo, logo que tenhas lido esta cartinha leva-lhe alimentos pelo menos para cinco dias.