A floresta deve estar vigiada; acautela-te; como nós fazíamos por causa dos nossos amos. Não digas uma única palavra a Malin, não lhe fales, e põe uma das máscaras que encontrarás num dos degraus do subterrâneo. Se não queres pôr em risco as nossas cabeças, guarda o mais absoluto silêncio sobre o segredo que me vejo obrigado a confiar-te. Não digas palavra sobre isto à Menina de Cinq-Cygne, que era capaz de. E não receies por mim. Estamos convencidos de que tudo acabará em bem e que Malin, quando for preciso, nos salvará. Enfim, logo que tenhas lido esta carta, escuso de te dizer que é melhor queimá-la, pois, se viessem a apanhar uma linha dela que fosse, isso custar-me-ia a cabeça. Recebe um beijo do teu Michu.»
A existência do subterrâneo, situado no cômoro, no meio da floresta, só era conhecida de Marta, do filho, de Michu, dos quatro gentis-homens e de Laurence; pelo menos era o que devia, crer Marta, a quem o marido nada dissera do seu encontro com Peyrade e Corentin. Assim, a carta que, aliás, lhe pareceu escrita e assinada por Michu, só dele podia ter partido. Evidentemente que se Marta tivesse logo consultado a ama e os seus dois conselheiros, ao par da inocência dos acusados, o manhoso procurador obteria algumas luzes sobre as pérfidas combinações em que os seus clientes estavam enredados; mas Marta, pessoa de ímpetos, como, aliás, a maior parte das mulheres; e convencida por aquelas considerações, que lhe saltavam aos olhos, atirou a carta para o lume. No entanto, compelida por uma singular inspiração de prudência, retirou das chamas o lado da carta não escrito, pegou nas primeiras linhas, cujo sentido não podia comprometer ninguém, e coseu-as na barra da saia. Assustada com a ideia de que o paciente estava em jejum havia vinte e quatro horas, quis levar-lhe logo, nessa noite, vinho, pão e carne.