Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 19: XIX-OS DEBATES

Página 203

- Mas - voltou o acusador público - se o senhor empregou gesso na vedação, serviu-se, sem dúvida, de um cocho e de uma colher. Ora, se foi dizer tão prontamente ao Senhor de Hauteserre que as suas ordens tinham sido executadas, como explica que Gothard lhe trouxesse mais um saco de gesso? O senhor deve ter passado diante da sua casa, onde teria deixado as suas ferramentas e prevenido Gothard.

Estes argumentos fulminantes produziram um silêncio horrível no auditório.

- Vamos, confesse-s-voltou o acusador-, não foi uma estaca que o senhor enterrou...

- Está então convencido de que foi o senador? - tornou-lhe Michu, com um ar profundamente irónico.

O Senhor de Granville pediu formalmente à acusação pública que se explicasse a tal respeito. Michu era acusado de rapto, de sequestro, e não de assassínio. Não havia nada mais grave que semelhante interpelação. O Código de Brumário do ano IV proibia ao acusador, público a introdução de qualquer nova acusação nos debates: sob pena de nulidade, tinha de manter-se dentro dos quesitos da acta acusatória.

O acusador público replicou que Michu, o principal autor do atentado, e o qual, no interesse dos amos, chamara sobre a sua cabeça toda a responsabilidade, podia ter precisado de tapar a entrada do local ainda desconhecido onde o senador estava padecendo.

Assediado, com perguntas, causticado diante de Gothard, posto em contradição consigo próprio, Michu deu um murro em cima do apoio da tribuna dos acusados e disse:

- Não tenho nada que ver com o rapto do senador; estimo que os seus inimigos se tenham limitado a emparedá-lo; mas se ele vier a aparecer, verão que o gesso não meteu para aí nem prego nem estopa.

- Bom! - exclamou o advogado, dirigindo-se ao acusador público -; o senhor acabou por fazer pela defesa do meu cliente muito mais do que tudo que eu poderia dizer.

<< Página Anterior

pág. 203 (Capítulo 19)

Página Seguinte >>

Capa do livro Um Caso Tenebroso
Páginas: 249
Página atual: 203

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - OS JUDAS 1
II – PROJECTO DE UM CRIME 16
III - AS MALÍCIAS DE MALIN 25
IV - FORA A MÁSCARA! 35
V – LAURENCE DE CINQ-CYGNE 43
VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO 54
VII - A VISITA DOMICILIARIA 67
VIII-UM RECANTO DA FLORESTA 78
IX - DESDITAS DA POLÍCIA 90
X - LAURENCE E CORENTIN 104
XI - DESFORRA DA POLÍCIA 117
XII - UM DUPLO E MESMO AMOR 128
XIII – UM BOM CONSELHO 140
XIV -AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO 151
XV - A JUSTIÇA SEGUNDO O CÓDIGO DE BRUMÁRIO DO ANO IV 159
XVI - AS DETENÇÕES 168
XVII - DÚVIDAS DOS DEFENSORES OFICIOSOS 178
XVIII – MARTA COMPROMETIDA 190
XIX-OS DEBATES 196
XX – HORRÍVEL PERIPÉCIA 212
XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR 222
XXII-DISSIPAM-SE AS TREVAS 236