Os acusados eram incorrigíveis inimigos da França, das instituições e das leis. Estavam sedentos de desordem. Embora implicados nos atentados contra a vida do imperador. e tivessem feito parte do exército de Condé, aquele magnânimo soberano irradiara-os da lista dos emigrados. E eis como pagavam a clemência que ele tivera para com eles! Enfim, todas as declamações oratórias que se repetiram em nome dos Bourbons contra os bonapartistas, que hoje se repetem contra os republicanos e os legitimistas em nome do ramo mais novo! Esses lugares-comuns que teriam sentido no caso de existir um governo estável surgirão pelo menos cómicos quando a História os encontrar iguais em todas as épocas na boca do ministério público. Pode aplicar-se-lhes este dito, que já vem de tempos antigos: «A tabuleta muda, mas o vinho é sempre o mesmo!» O acusador público, que foi, aliás, um dos procuradores gerais mais distintos do Império, atribuiu o delito à intenção formada pelos emigrados, no regresso a França, de protestarem contra a ocupação dos seus bens. E pão deixou de fazer estremecer o auditório quanto à situação do senador. Depois amassou as provas, as meias-provas, as probabilidades, com um talento que estimulava a recompensa certa do seu zelo, e sentou-se tranquilamente à espera do fogo dos defensores.
O Senhor de Granville, em toda a: sua vida, foi esta a única causa criminal que defendeu, mas com ela criou nome. Em primeiro lugar achou pata a sua defesa esse ímpeto de eloquência que nós hoje admiramos num Berryer. Depois estava certo da inocência dos acusados, o que constitui um dos mais poderosos veículos da palavra. Eis aqui os pontos principais da sua defesa, relatados na íntegra pelos jornais da época. Em primeiro lugar pôs a limpo a vida de Michu.