Um Caso Tenebroso - Cap. 20: XX – HORRÍVEL PERIPÉCIA Pág. 219 / 249

Há uma atmosfera das ideias. Num tribunal criminal as ideias da multidão pesam nos juízes, nos jurados e reciprocamente. Ao ver esta disposição dos espíritos, coisa que se reconhece ou que se sente, o defensor, quando chegou às suas últimas palavras, estava possuído de uma espécie de exaltação febril, resultado da sua própria convicção.

- Em nome - dos acusados antecipadamente vos perdoo um erro fatal que ninguém dissipará! - exclamou ele. - Todos nós estamos a ser o joguete de um poder desconhecido e maquiavélico. Marta Michu é vítima de uma odiosa perfídia, e a sociedade dará por isso quando já forem irreparáveis as desgraças.

Bordin serviu-se do depoimento do senador para pedir a absolvição dos gentis-homens.

O presidente resumiu os debates com tanto maior imparcialidade quanto é certo os jurados já estarem visivelmente convencidos. Fez mesmo pender a balança a favor dos acusados, apoiando-se no depoimento do senador. Esta gentileza já não comprometia o êxito da acusação. Às onze horas da noite, segundo as diferentes respostas do chefe do júri, o tribunal condenou Michu à morte, os Senhores de Simeuse a vinte e quatro e os dois Hauteserre a dez anos de trabalhos forçados; Gothard foi absolvido. Toda a sala quis ver a atitude dos cinco culpados no momento em que, conduzidos, livres, diante do tribunal, ouviriam a sua condenação. Os quatro gentis-homens olharam para Laurence, que lhes lançou, de olhos enxutos, o olhar inflamado dos mártires.

- Se tivéssemos sido absolvidos teria chorado! - disse o mais novo dos Simeuse ao irmão.

Nunca réus enfrentaram com expressão mais serena e atitude mais digna uma injusta condenação que aquelas cinco vítimas de uma conjura horrível.

- O nosso defensor já lhes perdoou - disse o mais velho dos Simeuse, dirigindo-se ao tribunal.





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