Um Caso Tenebroso - Cap. 21: XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR Pág. 225 / 249

- Entusiasmo? E em si, Bordin? Então esse homem é alguém? O nosso soberano é um prodígio de amor-próprio, senhor marquês - disse ele, mudando de conversa -, vai despedir-me para poder fazer loucuras sem que ninguém o contrarie. É um grande soldado que sabe modificar as leis do espaço e do tempo; mas não saberá modificar os homens, e gostaria de os moldar para uso próprio. Agora, não se esqueça de que o indulto dos seus parentes só poderá conseguir-se através de uma única pessoa, a Menina de Cinq-Cygne.

O marquês partiu sozinho para Troyes, e expôs a Laurence a situação. Laurence obteve do procurador imperial autorização para visitar Michu na cadeia, e o marquês acompanhou-a até à porta do cárcere, onde ficou à espera. Quando ela saiu trazia os olhos cheios de lágrimas.

- O pobre homem - disse ela - quis ajoelhar diante de mim para me implorar que não pensasse mais nele, sem se lembrar de que tinha cadeias nos pés! Ah! marquês, eu defenderei a sua causa. Sim, estou disposta a beijar as botas do seu imperador. E se falhar, pode estar certo, esse homem viverá, graças a mim, eternamente na nossa família. Apresente o seu pedido de indulto para ganhar tempo; quero o seu retrato. Vamos.

No dia seguinte, quando o ministro soube, por um sinal combinado, que Laurence estava no seu posto, tocou a campainha, e apareceu o contínuo, que recebeu ordem para mandar entrar o Senhor Corentin.

-Meu caro, o senhor é um homem muito hábil - disse-lhe Talleyrand - e eu estou disposto a empregá-lo.

- Monsenhor...

- Ouça. Servindo Fouché, terá dinheiro, nunca honras nem posição confessável; mas servindo-me a mim, como acaba de fazer em Berlim, gozará de consideração.

- Monsenhor é muito condescendente...

- Mostrou verdadeiro génio no seu último caso, em Gondreville.





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