Um Caso Tenebroso - Cap. 21: XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR Pág. 227 / 249

No fundo da sua caleche caíra naquela espécie de dormência em que cai o criminoso quando sabe chegada a hora do suplício. A natureza inteira cobre-se então de um fervilhar de vapor, e as coisas mais vulgares revestem-se de um aspecto fantástico. Esta ideia: «Se eu não conseguir, eles matam-me», abatia-se-lhe na alma como no suplício da roda outrora a barra do carrasco em cima dos membros do paciente. Cada vez se sentia mais alquebrada, ia perdendo toda a sua energia na expectativa do cruel momento, decisivo e rápido, em que se encontrasse frente a frente com o homem de quem dependia o destino de quatro gentis-homens. Tomara o partido de deixar-se abandonar à sua prostração para não despender inutilmente a energia. Incapaz de compreender este cálculo das almas fortes e que de forma muito diferente se traduz no exterior, pois nestas horas supremas certos espíritos superiores entregam-se a uma alegria surpreendente, o marquês tinha medo de não conseguir levar Laurence com vida até àquele encontro, solene apenas para eles, mas que, sem dúvida, ultrapassava as proporções ordinárias da vida privada. Para Laurence, humilhar-se diante daquele homem, alvo do ódio e do desprezo que lhe votava, implicava a morte de todos os seus sentimentos generosos.

- Depois disto - dizia ela -, a Laurence que sobreviverá em nada se parecerá com aquela que vai morrer.

No entanto, muito difícil foi aos dois viajantes não se darem conta do imenso movimento de homens e de coisas que os envolveu mal entraram na Prússia. A campanha de lena principiara.

Laurence e o marquês viam as magníficas divisões do exército francês desfilando em parada como, nas Tulherias. Nesses desfiles do esplendor: militar que só as imagens da Bíblia podem descrever, o homem que animava essas massas ganhava gigantescas proporções na imaginação de Laurence.





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