- Onde estamos nós? - perguntou a Menina de Cinq-Cygne, fazendo parar• dois oficiais que se aproximavam de capotes vestidos e os uniformes escondidos debaixo deles.
- Estais diante da vanguarda do exército francês, minha senhora - respondeu-lhe um dos oficiais. - Não podeis continuar aqui, pois se o inimigo fizer qualquer movimento e a artilharia entrar em acção ficareis entre dois fogos.
- Ah! - exclamou ela com a maior indiferença.
Ao ouvir esse ah! o outro oficial exclamava: - Como se encontra esta mulher mim sítio destes?
- Aguardamos - respondeu ela - um gendarme que foi prevenir o Senhor de Duroc, com quem contamos para podermos falar ao imperador. - Falar ao imperador! - exclamou o primeiro oficial. - Como assim? Na véspera de uma batalha decisiva?
-Ah! tem razão - tornou-lhe ela-, só lhe devo falar depois de amanhã; a vitória torná-lo-á brando.
Os dois oficiais foram colocar-se a uns vinte passos de distância, nos seus cavalos imóveis. A caleche foi então cercada por um esquadrão de generais, de marechais, de oficiais, todos extremamente brilhantes, e que respeitaram a carruagem, exactamente por ela ali estar.
-Meu Deus! -disse o marquês à Menina de Cinq-Cygne -, estou com medo de que não consigamos falar ao imperador.
- O imperador? - disse um coronel-general -; mas ali o têm.
Laurence viu então, a dois passos, na frente de todos, e sozinho, aquele que exclamara: «Como se encontra esta mulher num sítio destes?» Um dos dois oficiais, o imperador, afinal, com a sua célebre sobrecasaca, enfiada por cima de um uniforme verde, montado num cavalo branco ricamente ajaezado, examinava, com um óculo, o exército prussiano na outra margem do Saale. Laurence compreendeu então porque estava ali a caleche e porque a respeitava a escolta do imperador.