Um Caso Tenebroso - Cap. 22: XXII-DISSIPAM-SE AS TREVAS Pág. 242 / 249

Os três tinham os rostos lívidos e impassíveis que todos lhe conheceram. Só Carnot estava corado. Por isso o militar foi o primeiro a abrir a boca:

«- De que se trata?

«- Da França - deve ter dito o príncipe, pessoa que eu considero um dos homens mais extraordinários do nosso tempo.

«- Da República - deve ter dito, com certeza, Fouché.

«- Do poder - disse; provàvelrnente, Sieyes». Todos os presentes se entreolharam. De Marsay, na voz, no olhar, no gesto, pintara admiravelmente os três homens.

- Os três padres entenderam-se às mil maravilhas - continuou ele. - Carnot olhou, sem dúvida, para os seus colegas e para o ex-cônsul com um ar bastante digno. Lá por dentro devia estar estupefacto.

«- Parece-lhe que terá êxito? - perguntou-lhe Sieyes,

«- Tudo se pode esperar de Bonaparte - respondeu o ministro da guerra -; atravessou os Alpes com a maior felicidade.

«- Neste momento - disse o diplomata, com uma lentidão calculada - está a jogar tudo.

«- Enfim, cartas na mesa - interveio Fouché -; que faremos nós se o Primeiro Cônsul for vencido? Será possível refazer o exército? Ficaremos nós seus humildes servidores?

«-Nesta altura não há República - observou Sieyes -; ele é cônsul por dez anos.

«- Tem mais poder do que teve Cromwell - acrescentou o bispo - e não votou a morte do rei.

«- Temos um patrão - disse Fouché -; conservá-lo-emos, se ele perder a batalha, ou regressaremos à República pura?

«- A França - replicou, sentenciosamente, Carnot - só poderá resistir regressando à energia convencional.

«- Sou da opinião de Carnot-disse Sieyes. Se Bonaparte voltar derrotado, é preciso acabar com ele; já falou de mais nestes sete meses.

«- Ele tem o exército! - tornou Carnot, pensativo.

«- Nós teremos o povo! - exclamou Fouché.





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