Daí provém, talvez, a admiração do povo por tudo que não compreende.
O Senhor e a Senhora de Hauteserre, dominados pelo seu silêncio habitual e impressionados pela selvajaria da jovem condessa, estavam sempre à espera de alguma coisa de grande da parte dela. Praticando o bem com discernimento e sem se deixar ludibriar, Laurence conseguia ser respeitada em alto grau pelos camponeses, embora aristocrata. O seu sexo, o seu nome, as suas desditas, a originalidade da sua vida, tudo concorria para lhe dar autoridade sobre os habitantes do vale de Cinq-Cygne. Às vezes estava fora de casa um ou dois dias, na companhia de Gothard; e nunca, no seu regresso, o Senhor ou a Senhora de Hauteserre lhe faziam qualquer pergunta sobre os motivos da sua ausência. Note-se que Laurence não tinha em si própria nada de estranho. O virago ocultava-se nela sob a forma mais feminina e de mais frágil aparência. Tendo um, coração de uma sensibilidade excessiva, trazia na cabeça uma resolução viril e uma firmeza estóica. Os seus olhos clarividentes não sabiam chorar.