Um Caso Tenebroso - Cap. 5: V – LAURENCE DE CINQ-CYGNE Pág. 48 / 249

Quem visse o seu pulso branco e delicado, sulcado de veiazinhas azuis, não o imaginaria capaz de desafiar o do cavaleiro mais endurecido. A sua mão mole, fluida, manejava a pistola ou a espingarda com o vigor de um caçador experimentado. Fora de casa trazia sempre na cabeça o mesmo gracioso chapeuzinho de castor de véu caído sobre os olhos, em moda entre as senhoras que montam a cavalo; daí que o seu rosto delicado, o pescoço branco, envolto numa gravata preta, não tivessem sofrido as consequências de uma intensa vida ao ar livre. Durante o Directório e no princípio do Consulado, Laurence pudera fazer aquela vida, sem que ninguém se preocupasse com ela; mas depois que o Governo se estabilizara, as novas autoridades, o prefeito de Aube, os amigos de Malin e o próprio Malin procuravam desconsidera-la.

Laurence só tinha, um pensamento: derrubar Bonaparte, cuja ambição e cujo triunfo haviam despertado nela como que uma fúria, mas uma fúria fria e calculada. Inimiga obscura e ignorada desse homem coberto de glória, tinha os seus olhos terrivelmente fitos nele lá do meio do seu vale e das suas florestas; às vezes acometiam-na desejos de ir matá-lo aos arredores de Saint-Cloud ou da Malmaison. A execução desse desígnio explicaria só por si os exercícios e os hábitos da sua vida; mas iniciada, depois do rompimento da paz de Amiens, na conspiração dos homens que tentaram aproveitar o 18 de Brumário para o voltarem contra o Primeiro Cônsul, passara desde então a subordinar a sua força e o seu ódio ao plano, muito vasto e muito bem conduzido, que devia atingir Bonaparte.: exteriormente, graças à vasta coligação da Rússia, da Áustria e da Prússia, por ele vencida em Austerlitz, já imperador; e, internamente; mercê da coligação de homens Opostos nos seus credos, mas reunidos por um ódio comum, muitos dos quais, à semelhança de Laurence sonhavam com a morte desse homem sem que a palavra assassínio os fizesse recuar.





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