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Capítulo 6: VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO

Página 56
Se o prendessem, aquele pobre homem ter-se-ia deixado prender, não dispararia sobre os guardas municipais, e na maior serenidade caminharia até ao cadafalso.

As suas três mil libras de renda vitalícia, seu único recurso, tinham-no- impedido de emigrar. Obedecia, pois, ao governo de facto, sem deixar de amar a família real e de desejar o seu restabelecimento no trono; todavia ter-se-ia recusado a comprometer-se participando numa tentativa de rebelião a favor dos Bourbons. Fazia parte dessa porção de realistas que eternamente ficaram a lembrar-se terem sido vencidos e roubados; que, desde então, quedaram mudos, económicos, rancorosos, sem energia, mas incapazes de uma abjuração ou de qualquer sacrifício; prontos a saudar a realeza triunfante, amigos da religião e dos padres, mas decididos a suportar todas as afrontas da desgraça. Não se trata já de ter uma opinião, mas de se ser teimoso. A acção é a essência dos partidos.

Nada inteligente, mas leal,/ avaro como um aldeão, e no entanto nobre nas suas maneiras, ousado nos seus votos, mas discreto em palavras e actos, tirando partido de tudo, e pronto a deixar que o nomeassem maire de Cinq-Cygne, o Senhor de Hautese representava admiravelmente esses dignos gentis-homens, em cuja fronte Deus escreveu a palavra traças, que deixariam passar por cima dos seus solares e das suas cabeças as tempestades da Revolução, que ressurgiriam durante a Restauração ricos, graças às suas economias escondidas, orgulhosos duma dedicação discreta, e que depois de 1830 regressariam de novo às suas terras. O seu trajo, invólucro expressivo desse carácter, pintava o homem e o tempo. O Senhor de Hauteserre envergava uma dessas opa landas cor de avelã, de gola curta, à moda desde que o duque de Orleães regressara de Inglaterra, e as quais, durante a Revolução, foram como que a transição entre o horrível trajo popular e as elegantes sobrecasacas da aristocracia.

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pág. 56 (Capítulo 6)

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Capa do livro Um Caso Tenebroso
Páginas: 249
Página atual: 56

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - OS JUDAS 1
II – PROJECTO DE UM CRIME 16
III - AS MALÍCIAS DE MALIN 25
IV - FORA A MÁSCARA! 35
V – LAURENCE DE CINQ-CYGNE 43
VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO 54
VII - A VISITA DOMICILIARIA 67
VIII-UM RECANTO DA FLORESTA 78
IX - DESDITAS DA POLÍCIA 90
X - LAURENCE E CORENTIN 104
XI - DESFORRA DA POLÍCIA 117
XII - UM DUPLO E MESMO AMOR 128
XIII – UM BOM CONSELHO 140
XIV -AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO 151
XV - A JUSTIÇA SEGUNDO O CÓDIGO DE BRUMÁRIO DO ANO IV 159
XVI - AS DETENÇÕES 168
XVII - DÚVIDAS DOS DEFENSORES OFICIOSOS 178
XVIII – MARTA COMPROMETIDA 190
XIX-OS DEBATES 196
XX – HORRÍVEL PERIPÉCIA 212
XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR 222
XXII-DISSIPAM-SE AS TREVAS 236