Um Caso Tenebroso - Cap. 6: VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO Pág. 60 / 249

Durante muito tempo Cinq-Cygne conservara-se nu, vazio e devastado. De moto-próprio, o prudente tutor não quisera, durante as comoções revolucionárias, modificar o aspecto da propriedade. Mas, depois da paz de Amiens, fora a Troyes para trazer consigo alguns despojos dos dois solares saqueados, que comprou nos ferros-velhos. O salão fora então mobilado por ele. Belos cortinados de damasco branco com florinhas verdes, provenientes do solar de Simeuse, guarneciam as seis janelas onde naquele momento se encontravam estas personagens. Essa imensa sala era inteiramente revestida de madeira, painéis guarnecidos de baguetes cor de pérola, decorados de carrancas nos ângulos, e pintados a dois tons de cinzento. As bandeiras das quatro portas tinham motivos em grisalha, à moda no tempo de Luís XV. O pobre homem encontrara em Troyes consolas doiradas, uma poltrona de damasco verde, um lustre de cristal e uma mesa de jogo em marchetaria, coisas capazes de servirem para o restauro de Cinq-Cygne. Em 1792 todo o mobiliário do castelo fora recolhido, pois a pilhagem dos castelos teve a sua repercussão no vale. Sempre que o velho ia a Troyes, voltava com algumas relíquias do antigo esplendor, contando-se entre elas um belo tapete, como aquele que estava agora estendido no parquet do salão, uma peça da baixela e velhas porcelanas de, Saxe e de Sêvres, Havia seis, meses que ousara desenterrar a prataria de Cinq-Cygne, escondida pelo cozinheiro numa casinha propriedade sua, situada num dos longos arrabaldes de Troyes.

Esse fiel servidor, de nome Durieu, e sua mulher, haviam acompanhado sempre a jovem ama. Durieu era o faz-tudo do castelo, e a mulher a criada para todo o serviço. Como ajudante na cozinha tinha Durieu a irmã de Catarina, a quem ensinava a sua arte, e já excelente cozinheira.





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