Perante tanta calma e aquela inocente partida de
boston suspensa, não podia compreender as suspeitas da polícia de Paris. Nesse momento, Laurence, ajoelhada diante do oratório, rezava com fervor pelo êxito da conspiração! Orava a Deus para que ele ajudasse e socorresse os assassinos de Bonaparte; implorava a Deus com amor que destruísse aquele homem fatal! O fanatismo das Harmodius, das Judites, das Jacques Clément, das Ankastroem, das Charlotte Corday e das Limoêlan inflamava aquela bela alma, virgem e pura. Catarina abria a cama, Gothard fechava as persianas, e, assim, a chegada de Marta Michu junto às janelas de, Laurence, a que atirava pedrinhas, pôde ser notada.
- Menina: há qualquer coisa - disse Gothard ao ver a desconhecida.
- Caluda! - sussurrou Marta lá em baixo-; vem cá falar-me.
Gothard apareceu no jardim em menos tempo que um pássaro levaria a saltar de uma árvore para o chão.
- O castelo vai ser cercado pela gendarmaria... Sela, sem fazeres barulho, o cavalo da Menina, e trá-lo pela brecha do fosso, entre esta torre e as cavalariças.
Marta estremeceu ao ver a dois passos Laurence, que viera atrás de Gothard.
- Que aconteceu? - disse Laurence com toda a naturalidade e sem parecer impressionada.
- A conspiração contra o Primeiro Cônsul foi descoberta - respondeu Marta ao ouvido da jovem condessa. - Meu marido, que quer salvar os seus dois primos, mandou-me aqui para que a Menina vá falar com ele.
Laurence deu três passos à retaguarda e fitou Marta.
- Quem é a, senhora? - disse ela.
- Marta Michu.
- Não sei o que quer de mim - replicou, friamente, a Menina de Cinq-Cygne,
- Então? É a morte deles! Venha daí, em nome dos, Simeuse! - exclamou Marta, caindo de joelhos aos pés de Laurence, cujas mãos agarrou nas suas.