O Conde de Monte Cristo - Cap. 31: Itália - Simbad, o marinheiro Pág. 261 / 1080

Depois o raio luminoso foi repelido até ao cimo do cone, onde se deteve um instante como o penacho incandescente de um vulcão, e por fim a sombra, sempre ascendente, invadiu gradualmente o cume como invadira a base, e a ilha revelou-se como que uma montanha cinzenta que ia sempre escurecendo. Passada meia hora, era noite cerrada.

Felizmente os marinheiros encontravam-se nas suas paragens habituais e conheciam até o mais pequeno rochedo do arquipélago toscano, pois de contrário, no meio da escuridão profunda que envolvia a embarcação, Franz não deixaria de se sentir inquieto. A Córsega desaparecera por completo e a própria ilha de Monte-Cristo se tornara invisível. Mas os marinheiros pareciam possuir, como o lince, a faculdade dever nas trevas, e o piloto, sentado ao leme, não denotava a menor hesitação.

Decorrera cerca de meia hora desde que o Sol se pusera quando Franz julgou distinguir a um quarto de milha à esquerda uma massa sombria. Mas era tão impossível identificar do que se tratava que, receando provocar a hilaridade dos marinheiros, tomando algumas nuvens flutuantes pela terra firme, guardou silêncio. Mas de súbito surgiu um grande clarão na margem. A terra poderia assemelhar-se a uma nuvem, mas o fogo não era nenhum meteoro.

- Que luz é aquela? - perguntou.

- Caluda! É uma fogueira - respondeu o patrão.

- Mas vocês diziam que a ilha estava desabitada!

- Eu dizia que não tinha população fixa, mas também disse que era um lugar de descanso para os contrabandistas.

- E para os piratas!

- E para os piratas - disse Gaetano, repetindo as palavras de Franz. - Foi por isso que mandei ultrapassar a ilha, pois comovê o fogo está atrás de nós.

- Mas esse fogo - continuou Franz - parece-me mais um motivo de segurança do que de preocupação. Pessoas que receassem ser vistas não acenderiam uma fogueira.

- Oh, isso não quer dizer nada! - redarguiu Gaetano. - Se Vossa Excelência pudesse avaliar, no meio da obscuridade, a posição da ilha, veria que colocada como está a fogueira não pode ser vista nem da costa, nem da Pianosa, mas apenas do mar alto.

- Assim, receia que essa fogueira nos anuncie má companhia?

- É o que precisamos de tirar a limpo - respondeu Gaetano, com os olhos sempre fixos naquela estrela terrestre.

- Mas como?

- Já vai ver.

Depois destas palavras, Gaetano reuniu-se em conselho com os companheiros e ao cabo de cinco minutos de discussão executaram em silêncio uma manobra que lhes permitiu virar de bordo num instante. Retomaram então a rota que acabavam de seguir e poucos segundos depois desta mudança de direcção a fogueira desapareceu, oculta por qualquer ondulação do terreno.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069