O Conde de Monte Cristo - Cap. 77: Haydée Pág. 744 / 1080

- E não se lembra do nome desse francês? - perguntou Morcerf, pronto a ajudar a memória da narradora.

Monte-Cristo fez-lhe um sinal.

- Não, não me lembro - respondeu Haydée, que prosseguiu: - O barulho aumentava, ouviam-se passos cada vez mais próximos. Desciam os degraus do subterrâneo.

»Selim preparou a lança.

»Não tardou a aparecer uma sombra no crepúsculo azulado formado pelos raios do Sol que penetravam até à entrada do subterrâneo.

»- Quem és tu? - gritou Selim. - Mas sejas quem fores, não dês mais um passo.

»- Glória ao Sultão! - gritou o homem. - Foi concedido perdão completo ao vizir Ali. E não só tem a vida salva, como ainda lhe restituem a sua fortuna e os seus bens » A minha mãe soltou um grito de alegria e apertou-me ao coração.

»- Pára! - gritou-lhe Selim, vendo que ela corria já para a saída. - Bem sabes que me falta o anel.

»- Tens razão - concordou minha mãe, e ao mesmo tempo que cala de joelhos erguia-me para o céu, como se não lhe bastasse pedir a Deus por mim e quisesse ainda aproximar-me dele.

E Haydée deteve-se pela segunda vez, dominada por tal emoção que o suor lhe escorria da testa pálida e a voz estrangulada parecia não conseguir sair-lhe da garganta ressequida.

Monte-Cristo deitou um pouco de água gelada num copo e ofereceu-lho, ao mesmo tempo que dizia com uma doçura em que se notavam laivos de ordem:

- Coragem, minha filha!

Haydée limpou os olhos e a testa e continuou:

- Entretanto, os nossos olhos, habituados ao escuro, tinham reconhecido o enviado do paxá: era um amigo.

»Selim reconhecera-o, mas o corajoso rapaz só sabia uma coisa: obedecer!

»- Em nome de quem vens? - perguntou.

»- Venho em nome do nosso amo, Ali-Tebelin

»- Se vens em nome de Ali, sabes o que me deves entregar?

»- Sei e trago-te o seu anel - respondeu o enviado.

»Ao mesmo tempo, ergueu a mão acima da cabeça. Mas estava demasiado longe e não havia luz suficiente para que Selim pudesse, donde estávamos, distinguir e reconhecer o objecto que lhe apresentavam.

»- Não vejo o que tens na mão - disse Selim.

»- Aproxima-te ou aproximar-me-ei eu - sugeriu o mensageiro.

»- Nem um nem outro - respondeu o jovem soldado. - Põe aí onde estás e debaixo desse raio de luz o objecto que me mostras e retira-te até eu o ver.

»- Seja - disse o mensageiro.

»E retirou-se, depois de colocar o sinal de reconhecimento no lugar indicado.

»O nosso coração palpitava. Porque o objecto nos parecia ser efectivamente um anel. Mas seria o anel do meu pai?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069