O Conde de Monte Cristo - Cap. 24: Deslumbramento Pág. 193 / 1080

A enseada era suficientemente larga na entrada e bastante profunda no centro para que um naviozinho do género dos spéronares lá pudesse entrar e permanecer escondido.

Então, seguindo o fio das induções - esse fio que nas mãos do abade Faria vira guiar o espírito de forma tão engenhosa no dédalo das probabilidades - pensou que o cardeal Spada, interessado em não ser visto, procurara aquele enseada, escondera o seu barquinho, seguira a linha indicada pelos entalhes e, na extremidade dessa linha, escondera o seu tesouro.

Fora esta suposição que levara Dantès junto do rochedo circular.

Havia, porém, uma coisa que preocupava Edmond e lhe baralhava todas as ideias que possuía acerca da dinâmica: como fora possível, sem empregar forças consideráveis, içar o rochedo, que devia pesar cinco ou seis toneladas, da espécie de base onde assentava?

De súbito Dantès teve uma ideia: «Em vez de o fazerem subir, devem tê-lo feito descer«, disse para consigo.

Correu para a parte de cima do rochedo e procurou o sitio da sua primeira base.

De facto, não tardou a descobrir que fora praticada uma ligeira rampa. O rochedo deslizara da sua base até se deter no local onde agora se encontrava. Outro rochedo, do tamanho de uma pedra vulgar, servira-lhe de cunha. Pedras e seixos tinham sido cuidadosamente reajustados para fazer desaparecer qualquer solução de continuidade. Essa espécie de pequena obra de pedreiro fora coberta com terra vegetal onde a erva crescera e o musgo se desenvolvera algumas sementes de murta elentisco tinham-se fixado e o velho rochedo parecia soldado aochão.

Dantès retirou a terra com precaução e reconheceu ou julgou reconhecer todo esse engenhoso artifício.

Atacou então com a enxada aquela muralha intermédia cimentada pelo tempo. Depois de trabalhar durante dez minutos, a muralha cedeu e abriu-se um buraco onde cabia um braço. Dantès cortou a oliveira mais forte que encontrou, desramou-a, introduziu-a no buraco e utilizou-a como alavanca. Mas a rocha era não só muito pesada como, ainda por cima, estava calçada tão solidamente pelo rochedo inferior que nenhuma força humana, mesmo a do próprio Hércules, seria capaz de a deslocar.

Dantès reflectiu então que era precisamente o calço que se impunha atacar. Mas como?

Dantès olhou à sua volta, como fazem os homens embaraçados e o seu olhar pousou num corno de cabrito-montês cheio de pólvora que lhe deixara o seu amigo Jacopo.

Sorriu: a invenção infernal ia ser útil.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069