O Conde de Monte Cristo - Cap. 29: Acasa Morrel Pág. 239 / 1080

- Aproxime-se, Penelon - disse o rapaz -, e conte como as coisas se passaram.

Um velho marinheiro bronzeado pelo sol do equador, adiantou-se rodando nas mãos os restos de um chapéu.

- Bons dias, Sr. Morrel - disse, como se tivesse saído de Marselha na véspera e chegasse de Aix ou Toulon

- Bons dias, meu amigo - respondeu o armador, sem poder deixar de sorrir apesar das lágrimas. - Mas onde está o comandante?

- O comandante, Sr. Morrel, ficou doente em Palma. Mas se Deus quiser não será nada e vê-lo-á chegar um dia destes de tão boa saúde como o senhor ou eu.

- Está bem... Agora fale, Penelon - pediu o Sr. Morrel.

Penelon passou o tabaco de mascar do lado direito para o lado esquerdo da boca, pôs a mão diante desta, virou-se, lançou na antecâmara um longo jacto de saliva negra, adiantou um pé e disse, gingando-se:

- Na altura, Sr. Morrel, encontrávamo-nos qualquer coisa como entre o cabo Branco e o cabo Bojador, navegando com uma linda brisa de su-sudoeste, depois de oito dias de calmaria, quando o comandante Gaumard se aproximou de mim, que ia ao leme, e me disse:

«- Tio Penelon, que lhe parecem aquelas nuvens que se erguem lá adiante no horizonte?

«- Eu estava precisamente naquele momento a olhar para elas.

«- Que me parecem, comandante? Parece-me que sobem um bocado mais depressa do que têm direito e que são mais negras do que conviria a nuvens que não tivessem más intenções.

«- É também a minha opinião - disse o comandante - e vou já tomar as minhas precauções. Temos demasiadas velas para o vento que não tarda a soprar... Olá? Eh? Preparar para ferrar os sobrejoanetes e içar baixo a giba!

«- Era tempo. Ainda a ordem não estava cumprida e já o vento estava sobre nós e o navio ficava de querena.

«- Demónio, ainda temos demasiado pano! - disse o comandante. - Preparar para ferrar a vela grande.

«- Cinco minutos depois a vela grande estava ferrada e navegámos com a mezena, as gáveas e os joanetes.

«- Que é isso, Tio Penelon, porque está a abanar a cabeça - perguntou-me o comandante.

«- No seu lugar não ficaria por aí...

«- Creio que tem razão, velho, vamos ter vendaval - disse ele.

«- Com a breca, comandante - respondi-lhe eu -, quem comprasse o que se passa lá adiante por um vendaval faria um rico negócio? Trata-se de uma tempestade de se lhe tirar o chapéu ou eu já não percebo nada disto!

«- Quer dizer, via-se vir o vento como se vê vir a poeira em Montredon. Felizmente tinha diante de si um homem que o conhecia.

«- Preparar para colocar dois rizes nas gáveas! - gritou o comandante. - Largar bolinas, bracear ao vento, amainar as gáveas e carregar as talhas sobre as vergas!

- Isso não era o suficiente nessas paragens - interveio o inglês. - Eu teria colocado quatro rizes e ter-me-ia desembaraçado da mezena.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069