O Conde de Monte Cristo - Cap. 7: O interrogatório Pág. 51 / 1080

À medida que Dantès falava, Villefort observava-lhe o rosto, ao mesmo tempo tão afável e tão franco, e sentia acudirem-lhe à memória as palavras de Renée que sem o conhecer lhe pedir a indulgência para com o arguido. Com a prática que o substituto já possuía do crime e dos criminosos, via em cada palavra de Dantès surgir a prova da sua inocência. Com efeito, aquele rapaz, quase se poderia dizer, aquela criança, simples, natural e eloquente, com essa eloquência do coração que nunca se encontra quando se procura, cheio de afeição para todos porque era feliz e porque a felicidade torna bons os próprios maus, derramava até sobre o seu juiz a suave afabilidade que lhe transbordava do coração Edmond não linha no olhar, na voz e nos gestos, por mais rude e severo que Villefort tivesse sido para com ele, a não ser atenções e bondade para com aquele que o interrogava.

«Por Deus», disse Villefort para consigo, «aqui está um rapaz encantador que talvez me permita sem grande dificuldade, assim espero, ser agradável a Renée e satisfazer a primeira recomendação que me fez, o que me poderá valer um bom aperto de mão diante de toda a gente e um beijo terno num canto.»

E com esta doce esperança o rosto de Villefort desanuviou-se.

E assim, quando abandonou o fio do seu pensamento e olhou para Dantès, este, que seguia todos os movimentos da fisionomia do seu juiz, sorria como o próprio pensamento de Villefort.

- Tem alguns inimigos? - perguntou o substituto.

- Inimigos, eu? - redarguiu Dantès. - Tenho a sorte de ser demasiado insignificante para que a minha posição mos arranje. Quanto ao meu temperamento, talvez um pouco vivo, sempre tentei suavizá-lo no trato com os meus subordinados. Tenho dez ou doze marinheiros sob as minhas ordens; interrogue-os, senhor, e dir-lhe-ão que me estimam e respeitam, não como um pai, sou demasiado novo para isso, mas sim como um irmão mais velho.

- Mas, à falta de inimigos, talvez tenha invejosos. Ia ser nomeado comandante aos dezanove anos, o que é um cargo elevado na sua idade, e ia casar com uma linda mulher que o ama, o que é uma felicidade rara em qualquer parte deste mundo. Estas duas preferências do destino podem ter-lhe granjeado invejosos.

- Sim, tem razão. Deve conhecer os homens melhor do que eu. É possível. Mas se esses invejosos se encontram entre os meus amigos, confesso-lhe que prefiro não os conhecer para não ser obrigado a odiá-los.

- Engana-se. Tanto quanto possível, devemos ver sempre claro à nossa volta.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069