O Conde de Monte Cristo - Cap. 99: A lei Pág. 930 / 1080

A Sr.ª Danglars deitou-se sem a sombra de uma suspeita; mas, tranquila a respeito das pessoas, o seu espírito deteve-se nos acontecimentos.

À medida que as ideias se lhe esclareciam na cabeça, as proporções da cena do contrato aumentavam: já se não tratava de um escândalo, mas sim de uma indecência, nem de uma vergonha, mas sim de uma ignomínia.

Mal-grado seu, a baronesa lembrou-se então de que não tivera compaixão da pobre Mercédès, ferida recentemente, no marido e no filho, por uma desgraça também grande.

- Eugénie - disse para consigo - está perdida e nós também. O caso, tal como vai ser comentado, cobre-nos de opróbrio, porque numa sociedade como a nossa certos ridículos são chagas vivas, sangrentas, incuráveis. Ainda bem que Deus dotou Eugénie daquele temperamento estranho que tantas vezes me tem assustado! E o seu olhar reconhecido ergueu-se ao céu, cuja misteriosa providência dispõe tudo antecipadamente, conforme os acontecimentos se devem suceder, e de um defeito, de um vício mesmo, faz às vezes uma virtude.

Depois o seu pensamento transpôs o espaço, como fazem, abrindo as asas, as aves dos abismos, e deteve-se em Cavalcanti.

- O tal Andrea era um miserável, um ladrão, um assassino; e no entanto possuía maneiras que indicavam uma semieducação, senão uma educação completa. Ainda por cima, apresentou-se na sociedade aparentando possuir grande fortuna e com o apoio de nomes respeitáveis...

Como ver claro naquele dédalo? A quem se dirigir para sair daquela cruel situação?

Debray, para quem correra ao primeiro impulso da mulher que procura auxílio no homem que ama e que por vezes a perde, Debray só poderia dar-lhe um conselho. Era a alguém mais poderoso que devia recorrer.

A baronesa pensou então no Sr. de Villefort.

Fora o Sr. de Villefort que decidira prender Cavalcanti; fora o Sr. de Villefort que, sem compaixão, levara a desventura ao seio da sua família como se fosse uma família estranha.

Mas não; pensando melhor, o procurador régio não era um homem sem compaixão, era um magistrado escravo do seu dever, um amigo leal e firme que brutalmente, mas com mão segura, escalpelizara a corrupção. Não era um carrasco, era um cirurgião, e um cirurgião que quisera isolar aos olhos do mundo a honra dos Danglars da ignomínia daquele rapaz perdido que tinham apresentado à sociedade como seu futuro genro.

Uma vez que o Sr. de Villefort, amigo da família Danglars, procedia assim, já não havia motivo para supor que o procurador régio soubera de alguma coisa antecipadamente e se prestara a qualquer manejo de Andrea.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069