— E isso a que horas foi? — atalhou Calisto. — Era por noite alta?
— Não, meu senhor. Eram seis horas da tarde. V. Exa. tornou às oito, mas saiu logo; e, quando eu voltei de fazer uma visita, já o não achei para lhe dar esta notícia.
— E depois, a senhora que mais disse?
— Mostrou-se pesarosa de o não encontrar, e prometeu de voltar hoje às três horas.
— E a Sra. D. Tomásia saberá o que me quer essa dama?
— Não sei; o que ela somente disse foi que V. Exa. era um génio.
— Pois ela disse-lhe isso sem mais nem menos?
— Foi a respeito de ver aqui estes livros muito grandes, acho eu. Esteve a reparar neles com uma luneta… E a graça com que ela punha a luneta!… Mulher assim!… Os homens às vezes, por mais asneiras que façam, têm desculpa!…
— As paixões, minha Sra. D. Tomásia… — obtemperou o morgado, e lambeu os beiços molhados da libação de um vinho nervoso daquela garrafeira já mencionada. E prosseguiu! — As paixões do amor!… Nem os grandes sábios, nem os grandes santos se isentaram delas. Somos todos de quebradiço barro; somos uns pucarinhos de Estremoz nas mãos infantis das mulheres.