Senhora de grão primor,
Meu amor,
Formosíssima deidade,
Arde meu peito em saudade,
Quem fui ontem, não sou hoje;
Minha alegria me foge,
Se vos olho.
Já cativo em vós me acolho,
Havei de mim piedade;
Sede minha divindade;
Não leveis a mal que eu chore
Contanto que vos adore,
Gentil e nobre menina,
Como Camões a Cat’rina
E como Ovídio a Corina.
Posto isto, o morgado da Agra pôs os olhos com desdém no tabuleiro do almoço, e, com muita repugnância, consentiu ao apetite que se desjejuasse com uma linguiça assada, almoço que ele alternava com um salpicão frito.
Depois, quando se estava vestindo, olhou para a casaca de briche e para as pantalonas apolainadas, e teve engulho desta fatiota. Vestiu-se, saiu apressado, e entrou no estabelecimento do Sr. Nunes na rua dos Algibebes. Aqui o vestiram o mais desgraciosamente que puderam, com um farto paletó de pano cor de rato, e umas calças xadrez cinzento, e colete azul, de rebuço, com botões de coralinas falsas. No Chiado abjurou um chapéu de molas de merino, e comprou outro de castor, à inglesa. Cumpria-lhe vestir as primeiras luvas de sua vida. No vesti-las arrostou com dificuldades, que venceu, rompendo a primeira luva de meio a meio. Disse-lhe a luveira que não introduzisse os cinco dedos ao mesmo tempo, e ajudou-o na árdua empresa.