Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 5: V - Considerações plásticas Pág. 23 / 174

e refeita; cabelos castanhos; testa larga e escantuda; sobrolhos pretos; pálpebras amortecidas com aquele doce cansaço do sono irresistível; faces que as rosas não deixam ser trigueiras, mas que um primoroso apreciador do belo desejaria menos carminadas; beiços arqueados pelo molde da pequena boca, ainda pequena quando o riso mostra o esmalte dos dentes; pescoço alto, quebrando em ondulações de jaspe e torneios de espáduas e noutras ondulações que o cantor da Ilha dos Amores sabia descrever lindamente colhendo nos pomares as suas graciosas analogias: tal era Ângela. Tal era?! Que presunção! Quem soube aí descrever uma beleza mediana por maneira que vingasse retratá-la no espírito do leitor? E que direi da mulher que, à feição de Ângela, sobrelevava às de mais graças o realce dum suavíssimo colorido de candidez em que transluzia alma sublimada e cheia de poéticas tristezas!

Que admira, pois, que o administrador do bairro cortejasse com afável sombra a esposa de Fialho, sendo que, já de antemão, propendia a protegê-la das iras um tanto brutas do mazorral marido?

- Minha senhora - disse ele, mandando retirar os circunstantes, menos a criada - seu marido acusa esta mulher de lhe haver roubado uns brilhantes...

- Meu marido engana-se - interrompeu Ângela. - Os brilhantes, que a minha criada vendeu, fui eu quem os mandou vender.

- Mas a sua criada confessou ter sido ela quem...

- Já sei que ela confessou; mas não creia vossa senhoria senão o que eu lhe digo. Esta mulher está inocente. Pode vossa senhoria mandá-la embora sem receio, que estou pronta a declarar por escrito que mandei vender os brilhantes da minha pulseira.

O funcionário sentia sinceramente não ter mais que fazer neste lance, em harmonia com o código administrativo.





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