Foi, pois, caminho de Ponte de Lima, apenas saiu do convento. Chegou de noite com Vitorina ao portão do palacete. Bateu, esperou largo tempo que lhe abrissem. Anunciou-se. Mandou-a entrar um antigo criado; conduziu-a a uma sala, com duas alcovas, dizendo-lhe:
- Vossa excelência tem ali uma cama naquela alcova, e a criada outra. Eu vou servir o chá.
- E meu pai não me consente que o veja hoje? - perguntou Ângela.
- Seu pai, minha senhora, foi para França há quinze dias consultar médicos, por que tem padecido muito nestes últimos meses. Eu já era criado em Gondar quando vossa excelência nasceu. A Sr.ª. Vitorina há de lembrar-se do João Pedro. Sou eu, é este velho que aqui está. Ora eu fiquei com o governo desta casa, que para isso fui chamado lá do Paço, e entendo que minha obrigação é receber a filha do meu amo, e dar parte para Paris que vossa excelência está aqui. Se o Sr. general reprovar o meu procedimento, e me despedir do seu serviço, já me não prega grande peça, que eu pouco hei de viver. Até já, minha senhora. Se a Sr.ª. Vitorina quisesse ajudar-me a preparar o chá, bom seria, para não haver grande demora; que eu despedi a cozinheira assim que o patrão saiu, e cá me arranjo e mais outro criado com duas brasas e um púcaro.
Era consolador o repousar e respirar que Ângela experimentava naquela atmosfera de riqueza.