O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 18: CAPÍTULO VI Pág. 110 / 245

Desci à camara para beber cognac, porque o frio era agudo. Carmen, sentada no sofá, no alto da sala, estava ali imóvel, com os olhos vagos, as mãos cruzadas.

- Morremos, hein? perguntou ela.

- Tem medo? disse eu.

- Um pouco, de morrer afogada. de uma bala ou de uma facada, não me custava. Mas aqui, estupidamente, neste antipático elemento, é cruel! Ao menos não morro só! Lá se vai a sua linda prima!…

- Porque odeia a pobre condessa? disse-lhe eu, sorrindo.

- Eu! de modo algum. Acho-a piegas, detesto aqueles ares sentimentais, desonra a Península. aí está.

- Não é isso: é porque supõe que Catain Ritmel se interessa de mais por ela.

- E que me importa a mim esse cavalheiro?

E deu uma curta risada.

No entanto o ar abafado da sala, o movimento do navio perturbava-me. Subi à tolda. A condessa e Ritmel não passeavam. Tinham-se sentado, segundo depreendi, debaixo da tenda. Eu, de pé, através da lona podia escutar, apesar do ruido do vento.

Uma curiosidade indomável, a necessidade de compreender a situação do espirito da condessa, a certeza de que estávamos na aflição de um perigo, - e as ações humanas nesses momentos não se podem sujeitar ao critério da vida trivial, - tudo me levou a ir escutar, apesar das repugnâncias do meu carater. Acerquei-me, fiz ouvido de espião:

- E custa-lhe morrer?

- Muito e nada, respondia a condessa. Muito porque morre comigo o primeiro interesse que tenho na vida, que é a sua amizade; nada, porque, francamente, sou eu feliz?

- Se a minha amizade é para si um interesse profundo…

A condessa calou-se.

- Oh! compreendo-a bem, disse Ritmel. Sabe porque não é feliz, apesar da minha amizade? É porque não é a minha amizade o que o seu coração precisa. Oh! deixe-me falar!





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