Não sei se poderei navegar. Com calmaria, talvez. Mas com o vento que vem sobre nós, é caso para um atraso de quatro ou cinco dias.
No entanto, o vento crescia. Havia por todo o mar flocos de espuma.
Ouvia-se no horizonte um ruido surdo, como o marchar de mil batalhões.
A maior parte dos ingleses, pesados de sono e de vinho, tinham voltado para as cabines, indiferentes ao perigo. Algumas ladies, transidas, mas graves, ficaram no convés.
Em baixo, os engenheiros e os maquinistas trabalhavam poderosamente, e sem cessar.
Catain Ritmel aproximou-se de mim.
- É um perigo, e é um perigo sem luta. Este imbecil deste comandante navegou de mais para sul. Estamos perto da costa de África. Se o vendaval nos apanha agora atira-nos para lá… Todavia o nosso engenheiro de bordo, Pernester, é um homem de génio. Onde está a condessa?
Descemos à sala comum. A condessa lá estava, encostada à mesa, serena e pálida.
- Suba, prima, suba, disse eu. Ao menos em cima vê-se o céu, a água e o perigo!
Viemos encostar-nos à amurada, agarrados às cordagens. As estrelas davam uma claridade nebulosa. As ondas profundamente cavadas, orladas de espuma, reluziam sob aquela luz vaga. O vento era terrível.
- Porque não deitam lanchas ao mar? dizia a condessa. Ao menos lutava-se, havia a coragem. Mas ser arremessado o paquete para a Africa como uma baleia morta!…
Ela quis passear, mas o movimento do navio era muito violento; era necessário encostar-se ao braço de Catain Ritmel. Eu dificilmente me equilibrava. A pancada da onda contra o costado tinha um som lúgubre. A sineta de bordo tocava com uma voz desconsolada as horas e os quartos. Tinham-se acendido mais faróis no alto dos mastros. O ruido do vento de temeroso, parecia uma passagem violenta de almas condenadas.