O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 18: CAPÍTULO VI Pág. 111 / 245

É o amor profundo, inalterável, onipotente, que esteja em todos os momentos da sua vida e em todas as ideias do seu espirito; que viva do prazer e viva do sacrifício; que seja a última razão da vida, a consolação, a esperança, o ideal absoluto; que pelo que há de mais ardente prenda os seus olhos, e pelo que há de mais elevado prenda a sua alma…

- Cale-se, cale-se, dizia a condessa. É uma loucura falar assim… Vamos passear, vamos ver o mar.

O vento agora era terrível. O mar estava como água de sabão a perder de vista. O navio oscilava perdidamente, e sem rumo. No entanto, na máquina trabalhava-se sempre.

Ritmel continuava falando à condessa.

- Cale-se, cale-se, dizia ela, baixo, e como vencida.

- Não; devo dizer-lho: esta palavra «amizade» é falsa. Daqui a duas horas talvez, estamos perdidos. Ao pé da morte a sinceridade é uma justiça. Digo-lho. Amo-a. Não se erga. O vento levará consigo esta confissão. Amo-a. Se estamos culpados depois destas palavras, o mar é um bom tumulo e o mar lava tudo. Amo-a…

- Não diga isso. É um engano; é apenas simpatia. Para além do mais, o amor a que nos levaria? ou ao desprezo ou à tortura…

Eu ouvia mal. Eles falavam baixo. A tormenta chegava. O navio gemia lamentavelmente. As cordagens, que o vento quebrava de repente, assobiavam como cobras. Os marinheiros corriam. Sentiam-se a voz do comando, os martelos, os trabalhos na máquina. Uma vaga entrou, alagou o convés.

De repente senti um movimento dentro da tenda: a condessa ergueu-se; a sua voz era alta e vibrante:

- Catain Ritmel, pensa na sua honra que vamos morrer?

- Penso, condessa.

- Pois bem, quero dizer-lho então: amo-o!

E depois de um momento:

- Oh! amo-o, repetiu ela com uma explosão de paixão. Já que tenho a certeza de que morro pura, quero morrer sincera.





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