Desci à camara para beber cognac, porque o frio era agudo. Carmen, sentada no sofá, no alto da sala, estava ali imóvel, com os olhos vagos, as mãos cruzadas.
- Morremos, hein? perguntou ela.
- Tem medo? disse eu.
- Um pouco, de morrer afogada. de uma bala ou de uma facada, não me custava. Mas aqui, estupidamente, neste antipático elemento, é cruel! Ao menos não morro só! Lá se vai a sua linda prima!…
- Porque odeia a pobre condessa? disse-lhe eu, sorrindo.
- Eu! de modo algum. Acho-a piegas, detesto aqueles ares sentimentais, desonra a Península. aí está.
- Não é isso: é porque supõe que Catain Ritmel se interessa de mais por ela.
- E que me importa a mim esse cavalheiro?
E deu uma curta risada.
No entanto o ar abafado da sala, o movimento do navio perturbava-me. Subi à tolda. A condessa e Ritmel não passeavam. Tinham-se sentado, segundo depreendi, debaixo da tenda. Eu, de pé, através da lona podia escutar, apesar do ruido do vento.
Uma curiosidade indomável, a necessidade de compreender a situação do espirito da condessa, a certeza de que estávamos na aflição de um perigo, - e as ações humanas nesses momentos não se podem sujeitar ao critério da vida trivial, - tudo me levou a ir escutar, apesar das repugnâncias do meu carater. Acerquei-me, fiz ouvido de espião:
- E custa-lhe morrer?
- Muito e nada, respondia a condessa. Muito porque morre comigo o primeiro interesse que tenho na vida, que é a sua amizade; nada, porque, francamente, sou eu feliz?
- Se a minha amizade é para si um interesse profundo…
A condessa calou-se.
- Oh! compreendo-a bem, disse Ritmel. Sabe porque não é feliz, apesar da minha amizade? É porque não é a minha amizade o que o seu coração precisa. Oh! deixe-me falar!