O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 24: CAPÍTULO XII Pág. 136 / 245

Ritmel queria levantar Carmen, falar-lhe. Mas ela estava prostrada, com o rosto escondido na beira de leito, soluçando; e apenas a espaços dizia:

- Perdoe-me, perdoe-me!

Ritmel por fim, com uma ternura insistente, ergueu-a, tomou-a nos braços, disse-lhe as coisas mais elevadas e mais doces; e com uma meiguice e um encanto infinito beijou-a nos olhos.

A pobre criatura corou, eu senti renascerem-se lágrimas. Querido e pobre Ritmel! como ele teve naquele momento a ternura ideal, e o divino encanto do perdão!

Ela com uma simplicidade, em que já se sentia a imensa força interior que lhe dava a fé, falou a Ritmel de Deus, do convento em que queria entrar, da ordem que preferia, com palavras naturais e tocantes, que nos enchiam de mágoa. Por fim beijou a mão do seu amante.

- Adeus, disse ela. Para sempre! Rezarei por si.

E ia sair, devagar, sucumbida, quando de repente, à porta do quarto, parou, voltou-se, olhou-o longamente; os olhos encheram-se-lhe de uma luz sombria e terrivelmente apaixonada; o peito arquejou-lhe; empalideceu, e com os braços abertos, os lábios cheios de beijos, num ímpeto da sua antiga natureza, correu para se atirar aos braços dele com o frenesi das velhas paixões. Mas quando tocou no leito, estacou, caiu de joelhos, e num grande silêncio e num grande recolhimento beijou-lhe castamente os dedos! Depois tomou-me o braço, e saímos.

Ao outro dia chamou as criadas e repartiu por elas todos os seus vestidos, rendas e toiletes. Deu as suas joias a um padre inglês para as distribuir pelos pobres. Frascos, bijuterias, essências, tudo destruiu. Confessou-se, esteve todo o dia rezando na igreja de S. João e preparou-se para partir. Todos os que a conheciam choravam.

Á noite, quando fazia a sua pequena mala, mandou-me chamar, fechou a porta do quarto e entregou-me o seu testamento, para eu o deixar depositado em Malta, de sorte que D.





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