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Capítulo 24: CAPÍTULO XII

Página 135
Vi-a convalescer sob os meus cuidados: D. Nicazio tinha ido para Sicília. Sustentei os primeiros passos que ela deu no seu quarto, extremamente magra, com o olhar quebrado, uma transparência mórbida na fisionomia, e a imaginação doente.

Começou logo a entregar-se a longas orações, a leituras piedosas. O seu intento era entrar num convento em Espanha, e ali, matar o seu corpo na penitência e na dor. Passava agora os dias nas igrejas. Estava mudada nos seus hábitos e nas suas maneiras. A sua beleza mesmo tomava uma expressão ascética. Tinha-se verdadeiramente desligado do mundo. às vezes olhava-me, e dizia de repente, lembrando o convento:

- É triste! Aos vinte e oito anos!

Mas a exaltação religiosa retomava-a, e então perdia-se em esperanças, ideias de uma redenção pela oração, pelo jejum, pelo silêncio e pela contemplação. Naquele espirito visitado por todas as paixões, e sempre numa vibração exaltada, entrava pelo seu turno o sombrio catolicismo espanhol, e vendo o lugar deserto das outras ideias do mundo, acampava lá serenamente.

Um dia pediu-me para ir ver Ritmel antes de partir para Espanha.

- É como irmã da caridade que o quero ver!

Levei-a a casa de Ritmel, uma noite. O quarto estava mal alumiado pela desmaiada luz de velas de stearina. A palidez de Ritmel era dolorosa sobre a brancura do seu travesseiro. Carmen entrou, arremessou-se de joelhos ao pé da cama dele, tomou-lhe uma das mãos e ficou ali soluçando longo tempo. Ritmel chorava também.

Eu tinha-me encostado à parede, e sentia invadir-me uma tristeza, profunda e insondável como a noite. Um vizinho, cuja janela abria para o estreito pátio, para onde dava também uma janela de Ritmel, tocava nesse momento na sua rebeca, com uma melancolia plangente, a valsa do Baile de mascaras, que, sendo doce e tenebrosa, desperta não sei que ideias de festa e de morte, de amor e de claustro.

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pág. 135 (Capítulo 24)

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Capa do livro O Mistério da Estrada de Sintra
Páginas: 245
Página atual: 135

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CARTA AO EDITOR, 1
PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I
5
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 14
CAPÍTULO IV 18
CAPÍTULO V 25
CAPÍTULO VI 30
CAPÍTULO VII 37
SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I
44
TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I
50
CAPÍTULO II 56
CAPÍTULO III 60
QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I
79
CAPÍTULO II 85
CAPÍTULO III 91
CAPÍTULO IV 94
CAPÍTULO V 102
CAPÍTULO VI 108
CAPÍTULO VII 113
CAPÍTULO VIII 118
CAPÍTULO IX 123
CAPÍTULO X 125
CAPÍTULO XI 130
CAPÍTULO XII 134
CAPÍTULO XIII 138
CAPÍTULO XIV 143
CAPÍTULO XV 149
QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
154
CAPÍTULO II 163
CAPÍTULO III 165
CAPÍTULO IV 170
CAPÍTULO V 182
CAPÍTULO VI 187
SEXTA PARTE - A CONFISSÃO DELA
CAPÍTULO I
190
CAPÍTULO II 195
CAPÍTULO III 197
CAPÍTULO IV 204
CAPÍTULO V 208
CAPÍTULO VI 213
CAPÍTULO VII 217
CAPÍTULO VIII 221
CAPÍTULO IX 226
CAPÍTULO X 231
SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
236
CAPÍTULO II 240