O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 25: CAPÍTULO XIII Pág. 138 / 245

CAPÍTULO XIII

Daí a doze dias, a condessa e o conde voltavam no paquete da India a Gibraltar. O conde partia triste: Mademoiselle Rize ficava, e o Chiado esperava-o! De mais, o estar só com a condessa embaraçava-o: as melancolias dela, as suas inexplicáveis, a sua palidez apaixonada, toda a incoerência do seu carater, que aquele excelente libertino explicava pelo nervoso e pelo histerismo, davam-lhe uma certa fadiga enfastiada, e, como ele dizia, embirrava com romantismos. A condessa, essa, partia resignada: Ritmel depois da sua convalescença iria para a Itália, para aquecer as forças ao sol de Nápoles, e mais tarde em Paris, e depois em Lisboa, teriam alguns meses livres, para, como diziam os antigos poetas, os tecerem de ouro, seda e beijos.

Foi com saudade que os vi embarcar. Eu ali ficava para cumprir um dever melancólico: acompanhar a Cádis aquela infeliz Carmen, ainda há pouco de uma beleza tão radiante, e agora vencida pelas amargas penitencias.

Lord Grenlei, que ia para Cádis dentro de quatro dias, tinha-nos oferecido, a Carmen e a mim, o seu yacht. Aceitei com alegria. Era um transporte cómodo e livre, e lord Grenlei uma companhia simpática, porque me assustava a ideia de ver durante uma longa viagem no mar, a debilidade de Carmen estiolar-se ao meu lado. enfim uma tarde partimos.

Era ao escurecer, o céu estava nublado, quase chuvoso. Carmen ia profundamente doente. Magra, transparente, lívida, sem poder suster-se, sem dormir, alimentando-se quase só de chá, a sua vida parecia estar a todo o momento a passar os limites humanos. Não erguia os olhos dos seus livros de orações. Aquela exaltação a que faltava a terra procurava febrilmente todos os caminhos do céu.

Foi com uma grande tristeza que vi Malta sumir-se nas brumas da noite.





Os capítulos deste livro