O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 40: CAPÍTULO VII Pág. 218 / 245

- Mas vai debalde. Não há guerra. É positivo. Por isso eu vou para Itália.

- Vai para Itália?… Mas, então… Ah! vai para Itália? Minha pobre amiga, quem sabe se isso devia ser! Em todo o caso, em qualquer parte, ou feliz, ou triste, para a consolar, ou para fazer um trio com o meu violoncelo, sou seu, adeso e sempre.

Apertou-me a mão. Não sei porque, aquelas palavras deram-me uma sensação triste.

Quis ir ao Aterro. A tarde caía. A água tinha uma imobilidade luminosa.

Do outro lado os montes estavam esbatidos num vapor azulado e suave.

Sobre o mar havia nuvens inflamadas, de uma cor fulva, como no fundo de uma glória. Algumas velas passavam rosadas, tocadas da luz.

Sentia-me vagamente melancólica. O rio, aquelas casas triviais, todos aqueles aspetos que eu conhecia, que eram para mim até aí quase inexpressivos, apareciam-me pela última vez que os via, com uma feição simpática. Tive uma saudade piegas daqueles lugares: quis sorrir, escarnecer; mas a verdade era que aquela paisagem, o pesado hotel Central, o terraço de Bragança-hotel, a grosseira e escura rua do Arsenal, todas essas coisas alheias a mim, me despertavam inesperadamente o desejo instintivo de tranquilidade, de família, de situações pacíficas, fazendo destacar no fundo da minha vida, num relevo negro, a aventura que eu ia intentar; e aparecendo-me como um juntamento de velhos rostos amigos que se despedem, faziam-me pensar nas coisas irreparáveis, no exilio e na morte!

A minha carruagem subia a passo a rua do Alecrim. As luzes acendiam-se. O céu estava ainda pálido.

Uma senhora passou, só, a pé, levando uma criança pela mão: era uma mulher nova e distinta; parecia feliz. O pequenino, loiro, gordo, ria, palrava naquela linguagem misteriosa e doce, que é o que ficou ainda na voz humana do a b c do céu.





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