O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 44: SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I Pág. 237 / 245

Poderia disputar-lha a justiça oficial, não pode empecer-lha a retidão dos homens de bem a quem foi entregue a decisão da sua causa. O seu futuro, violentamente assinalado pela desgraça, não pertence aos criminosos, pertence aos desgraçados. Leve-lhes a melancólica lição destes desenganos, e permita Deus que perante a suprema justiça, possam os benefícios obscuros e ignorados que houver de espalhar em volta de si, compensar os erros que atravessaram o seu passado! Os vestígios da sua culpa ficarão sepultados nesta casa.

Nós abrimos-lhe passagem para que saísse. A condessa, numa palidez cadavérica, vacilava; faltavam-lhe as forças; não podia sustentar-se em pé. O mascarado alto deu-lhe o braço. Ela fez um movimento como se tentasse falar; o seu rosto contraiu-se numa profunda expressão de dor; hesitou um momento; por fim comprimiu os beiços no lenço e saiu abafando uma palavra ou estrangulando um soluço.

Momentos depois ouvimos a carruagem afastando-se com aquilo que fora no mundo a condessa de W…

Tínhamos acordado no modo de ocultar o cadáver, o que se tornava tanto mais fácil quanto era inteiramente ignorada a assistência do capitão em Lisboa.

Viéramos para o pavimento inferior do prédio, a uma casa térrea, a que se descia por quatro degraus para baixo do solo. Era ao fim da tarde. Estávamos alumiados com a luz das velas, porque não entrava na loja a luz do dia. Tinha-se cavado uma profunda cova. Sentia-se o cheiro húmido e acre da terra revolvida. Dois dos indivíduos a que tenho chamado os mascarados, seguravam duas serpentinas em que ardiam dez velas cor de rosa. Do travejamento escuro do teto pendiam como cortinas pardacentas e prateadas as teias de aranhas rasgadas pelo peso do pó.

Desenrolámos o fardo que tínhamos colocado junto da cova, e contemplámos pela derradeira vez a figura do morto estendido sobre a sua manta de viagem.





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