Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 44: SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I

Página 238

Tinham-lhe atado a gravata branca, abotoado o colete e vestido a casaca azul de botões de ouro, em cuja carcela se via ainda pendida uma rosa murcha. A cabeça dele, na luz a que estava sujeita, era de uma expressão ideal. Os olhos, de que se não viam as pupilas, apagados e imoveis, davam ao seu rosto o vago aspeto que apresentam os das antigas estátuas. Nos lábios entreabertos parecia pairar um leve sorriso sob o bigode arqueado. Os anéis do cabelo, despenteados pelo contato da manta em que viera envolto o cadáver, destacavam na lividez da cara como um velo de ouro numa superfície de marfim.

Havia um silêncio profundo. Ouvia-se o bater dos segundos nos relógios que tínhamos nas algibeiras e o zumbir das moscas que esvoaçavam sobre a face do morto. Eu fitando-o com os olhos marejados de lágrimas, pensava melancolicamente…

Pobre Ritmel! Se neste momento solene, em que o teu corpo espera à beira da cova pelo seu descanso eterno, te faltam na terra as pompas fúnebres devidas à tua hierarquia; se te não seguiu até aqui um préstito de uniformes recamados de ouro; se nem sequer tens ao entrar na tua derradeira morada as orações de um padre e a luz de um cirio, cubra-te ao menos a bênção da amizade! Descendente de lords, jovem, inteligente e belo, quando todas as flores que perfumam a vida desabrochavam debaixo dos teus passos, apaga-se de súbito no firmamento a estrela que presidiu ao teu nascimento, e tu baqueias como o ente mais desprezível no fundo de uma sepultura sem lápide, sem nome, na mesma casa em que vieste procurar a última expressão da tua felicidade, à luz das mesmas velas que iluminaram o teu derradeiro beijo! Os outros desgraçados que morrem têm ao menos na terra um lugar assinalado onde repousam as suas cinzas, e onde podem ir os que os amaram chorar por eles.

<< Página Anterior

pág. 238 (Capítulo 44)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Mistério da Estrada de Sintra
Páginas: 245
Página atual: 238

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CARTA AO EDITOR, 1
PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I
5
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 14
CAPÍTULO IV 18
CAPÍTULO V 25
CAPÍTULO VI 30
CAPÍTULO VII 37
SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I
44
TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I
50
CAPÍTULO II 56
CAPÍTULO III 60
QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I
79
CAPÍTULO II 85
CAPÍTULO III 91
CAPÍTULO IV 94
CAPÍTULO V 102
CAPÍTULO VI 108
CAPÍTULO VII 113
CAPÍTULO VIII 118
CAPÍTULO IX 123
CAPÍTULO X 125
CAPÍTULO XI 130
CAPÍTULO XII 134
CAPÍTULO XIII 138
CAPÍTULO XIV 143
CAPÍTULO XV 149
QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
154
CAPÍTULO II 163
CAPÍTULO III 165
CAPÍTULO IV 170
CAPÍTULO V 182
CAPÍTULO VI 187
SEXTA PARTE - A CONFISSÃO DELA
CAPÍTULO I
190
CAPÍTULO II 195
CAPÍTULO III 197
CAPÍTULO IV 204
CAPÍTULO V 208
CAPÍTULO VI 213
CAPÍTULO VII 217
CAPÍTULO VIII 221
CAPÍTULO IX 226
CAPÍTULO X 231
SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
236
CAPÍTULO II 240