O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 12: CAPÍTULO III Pág. 64 / 245

O que se passava por mim, o mistério que me cercava, o cadáver que vira, a presunção - ainda que vaga - da concorrência de um ou mais amigos meus envolvidos neste acontecimento, tudo isto era tão extraordinário e tão grave que eu não ousava referi-lo ao homem desconhecido que o acaso me deparava por vizinho.

Era já positivo para mim que me achava em Lisboa. Desejava naturalmente saber qual era a rua e a casa em que estava; não me ocorria porém um pretexto plausível para levar o alemão a dizer-mo, sem que eu o interrogasse de um modo ambíguo, que poderia levantar sobre a situação em que me acho suspeitas talvez perigosas para a segurança das pessoas comprometidas neste negócio. Contentei-me pois em alegar o incómodo a que me obrigava a posição em que estava, e dei as boas noites ao meu vizinho. Ele despediu-se batendo no muro três pancadas espaçadas por pausas iguais às daquelas com que eu primeiro lhe despertara a atenção. Lembrou-me que poderia ser mação aquele homem, e que nas circunstâncias em que eu estava me serviria a proteção que lhe pedisse em nome de juramentos recíprocos e de compromissos comuns. Dei-lhe então uma letra, ele respondeu-me com outra e assim construímos sucessivamente a palavra da senha.

- Salut, mon frêre! exclamou ele.

- Segredo! disse-lhe eu baixinho, respondendo com os nós dos dedos no muro ao sinal que me dera.

Fechei em seguida o armário, cheguei a cama para o lugar donde a tinha removido, e deitei-me vestido.

Não podia dormir, comecei a pensar e a entristecer.

Nesta casa, debaixo destes mesmos tetos, está morto um homem, jovem, elegante e belo, que entrara aqui, cheio talvez de esperanças, de alegrias, de projetos no futuro, e que de repente caiu para todo o sempre, envenenado por





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