Calafrio - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 42 / 164

Devagar, a mulher voltou a fitar-me.

— Está com medo por eles?

Trocámos um olhar intenso.

— E a senhora não está? — Ao invés de responder, a mulher aproximou-se da janela e, durante um minuto, encostou o rosto as vidro.

— E pronto, agora está a ver o que ele viu — disse eu.

Ela não se moveu.

— Durante quanto tempo é que esse homem aqui esteve?

— Até eu sair da sala e vir até aqui para o encontrar.

Por fim, a mulher deu meia volta e o seu rosto apresentava uma expressão preocupada.

— Eu não teria sido capaz.

— Nem eu! — Voltei a rir. — Mas fiz o que devia ser feito. Cumpri as minhas obrigações.

— E eu as minhas — retorquiu ela antes de acrescentar: — Como é que ele é?

— Ando morta por falar-lhe a esse respeito. O pior é que ele não se parece com ninguém.

— Com ninguém? — A sua voz ecoou as minhas palavras.

— Não usa chapéu. — Depois, ao compreender pela expressão do seu rosto que aquilo lhe causava uma certa preocupação, tratei de dar-lhe todas as informações que possuía:—Tem o cabelo ruivo, mesmo muito ruivo, encaracolado, o rosto pálido, comprido, de traços regulares e agradáveis, e umas suíças um tanto ou quanto estranhas, tão ruivas como o cabelo. As sobrancelhas são um pouco mais escuras e bastante arqueadas, como se o seu possuidor fosse capaz de as usar de um modo expressivo. Os olhos são profundos, estranhos... terrivelmente estranhos. Deles só posso dizer com clareza que têm uma expressão fria. A boca é larga e os lábios finos, e, para além daquelas suíças de que já lhe falei, o rosto está impecavelmente escanhoado. Creio que me parece um actor.





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