Um Caso Tenebroso - Cap. 21: XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR Pág. 228 / 249

Não tardou que a palavra «vitória» lhe ressoasse aos ouvidos. Os exércitos imperiais acabavam de alcançar duas assinaladas vantagens. O príncipe da Prússia fora morto na véspera do dia em que os dois viajantes chegavam a Saalfeld, tentando alcançar Napoleão, que avançava com a rapidez do raio. Finalmente, a 13 de Outubro, data de mau augúrio, a Menina de Cinq-Cygne seguia ao longo de um rio no meio dos corpos do Grande Exército, mais não vendo, à sua volta, que confusão, remetida de aldeia para aldeia e de divisão para divisão, apavorada por saber-se sozinha com um velho, sacudida por um oceano de cento e cinquenta mil homens, na peugada de cento e cinquenta mil outros. Exausta de ver sempre o mesmo rio por cima das sebes de um caminho lamacento por onde seguia ao longo de uma colina, perguntou ao lacaio como se chamava aquele curso de água:

- É o Saale - retorquiu-lhe ele, mostrando-lhe o exército prussiano, agrupado em grandes massas, do outro lado da corrente.

A noite aproximava-se, Laurence via acenderem-se as fogueiras e cintilarem as armas. O velho marquês, de uma intrepidez cavalheiresca, guiava ele próprio, ao lado do seu novo criado, dois bons cavalos comprados na véspera. Sabia muito bem que não voltaria a encontrar nem postilhões nem cavalos quando chegasse ao campo de batalha. De súbito, a audaciosa caleche, espanto de todos os soldados, foi detida por um gendarme do exército, que cavalgava a toda a brida atrás do marquês, gritando-lhe:

- Quem sois vós? Onde ides? Que pretendeis?

- O imperador - disse o marquês de Chargeboeuf -; sou portador de um importante despacho dos ministros para o marechal Duroc.

- Bom; não podeis ficar aqui - disse o gendarme.

A Menina de Cinq-Cygne e o marquês eram tanto mais obrigados a ficar ali quanto era certo o dia aproximar-se do fim.





Os capítulos deste livro