Um Caso Tenebroso - Cap. 8: VIII-UM RECANTO DA FLORESTA Pág. 85 / 249

Michu ocultou com grandes pedras a entrada do esconderijo; depois, para guardar o segredo e torná-lo impenetrável, impôs-se a obrigação de trepar à cumeada em corcova, e de descer ao subterrâneo pela escarpa em lugar de o abordar pelo pântano. Na altura em que os dois fugitivos ali chegavam, a lua projectava o seu belo luar de prata no cimo das árvores centenárias da cumeada, e brincava nos magníficos tufos das línguas do bosque caprichosamente recortadas pelos caminhos que ali vinham desembocar, umas arredondadas, outras pontiagudas, esta rematada por uma única árvore, aquela por uma pequena mata.

Dali, a vista engolfava-se, irresistivelmente, por fugidias perspectivas onde os olhos seguiam ora a rotundidade de uma azinhaga, ora a vista sublime de uma longa álea da floresta, ora ainda uma muralha de verdura quase negra. A luz filtrada através das ramagens daquela encruzilhada fazia brilhar, entre os agriões claros e os nenúfares, os diamantes de águas tão tranquilas e ignoradas. O coaxar das rãs perturbava o profundo silêncio daquele recanto da floresta, cujo perfume selvagem despertava na alma ideias de liberdade.

- Estamos realmente salvos? - perguntou a condessa a Michu.

- Estamos, menina. Mas cada um de nós tem uma tarefa a cumprir. Vá prender os cavalos às árvores no topo dessa colina, e amarre-lhes um lenço, a cada um deles, em volta do focinho - disse-lhe ele, estendendo-lhe a sua gravata -; o meu e o seu são inteligentes, saberão que devem calar-se. Logo que o tenha feito, desça direita para a água por esta escarpa, não deixando que se lhe prenda a amazona nalgum arbusto encontrar-me-á lá no fundo.

Enquanto a condessa escondia os cavalos, os amarrava e açamava, Michu afastava as pedras e descobria a entrada do subterrâneo, A condessa, convencida de que conhecia a sua floresta de cor e salteado, não pôde calar a surpresa quando se viu no esconderijo.





Os capítulos deste livro