Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 15 / 258

- Talvez não seja possível uma aproximação – opinei.

- Pode ser - concordou o comandante. - Se ele possuir em si mesmo um poder fulminante, é sem dúvida o animal mais terrível saído das mãos de Deus. É por isso, meu caro professor, que estou tendo cautela.

Toda a tripulação ficou acordada aquela noite. Ninguém pensou em dormir. A “Abraham Lincoln”, não podendo competir em velocidade com o animal, moderou a sua marcha e navegava a meio vapor. Por seu lado, o narval, imitando a fragata, deixava-se embalar pelas águas do mar, parecendo decidido a não abandonar o teatro da luta.

A uma hora da madrugada ouviu-se um silvo ensurdecedor, semelhante àquele que é produzido por uma coluna de água arremessada com extrema violência por algum engenho de grande força propulsora.

O Comandante Farragut, Ned Land e eu nos encontrávamos então no tombadilho, perscrutando avidamente as trevas profundas.

- Ned Land, você já ouviu baleias rugindo? - perguntou o comandante.

- Muitas vezes, senhor. Mas nenhuma igual a essa.

- Esse barulho não é igual ao que fazem os cetáceos quando expelem água pelos respiradouros?

- Esse é incomparavelmente mais forte, senhor. Acho que não há engano possível: é mesmo um cetáceo que temos diante dos olhos. Se o senhor autorizar - acrescentou o arpoador - ao nascer o dia vou dar-lhe duas palavrinhas.

- Se ele quiser ouvi-lo, meu caro Land - observei. - Se eu conseguir-me aproximar dele à distância ideal para lançar o arpão, ele terá de me ouvir - afirmou o canadiano.

- Mas para se aproximar - disse o comandante - terei de pôr uma baleeira à sua disposição.

- Sem dúvida, comandante.

- Será arriscar as vidas dos meus homens.





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