Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 32: Capítulo 32 Pág. 165 / 258

Diante dos meus olhos, arruinada, destruída, demolida, aparecia uma cidade com os telhados roídos, os templos desmoronados, os arcos deslocados, as colunas caídas por terra, onde se percebiam ainda alguns traços de arquitetura toscana. Mais ao longe os restos de um gigantesco aqueduto e mais além a saliência de uma acrópole com as formas flutuantes de um Partenon. Mais adiante vestígios de um cais, como se algum antigo porto tivesse outrora abrigado navios mercantes e trirremes de guerra. Ainda mais longe, longas linhas de muralhas arruinadas, largas ruas desertas, uma Pompéia submersa que o Capitão Nemo ressuscitava a minha vista.

Onde estaríamos? Emocionado, esbarrei no capitão. Por gestos exigi que ele me desse uma explicação. Pegando em um pedaço de rocha calcária ele se dirigiu para um granito de basalto preto e traçou uma palavra: “ATLANTIDA”.

Um clarão atravessou-me o espírito! A Atlântida de Platão, esse continente negado por Orígenes, Porfirio, Jamblique, D’Anville, Malte-Brun e Humboldt, que consideravam o seu desaparecimento uma lenda.

Aceito por Possidônio, Plínio, Ammien-Marcellin, Tertuliano, Engel, Sherer, Tournefort, Buffon, D’Avezac, estava diante dos meus olhos, mostrando ainda os irrecusáveis testemunhos da sua catástrofe. Era, portanto, aquela região submersa que existia fora da Europa, da Ásia, da Líbia e para além das colunas de Hércules, onde vivia o poderoso povo dos Talantes, contra o qual se fizeram as primeiras guerras da antiga Grécia.

O historiador que consignou nos seus escritos os altos feitos desses tempos heroicos foi o próprio Platão, no seu diálogo de Tiniu e Críticas, traçado por assim dizer sob a inspiração de Cólon o poeta e legislador.





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